EMPRESTA-ME TUA BICICLETA?
Voltando mentalmente ao passado, regressando quando eu morava na Rua Lucas de Oliveira 1490 em Porto Alegre. Minha idade era de 15 anos. Morava na nossa casa um amigo que trabalhava numa empresa, junto com o meu irmão Walter, chamado Luiz Gomercindo. Ele acabara de comprar uma linda bicicleta. Naquela época tudo era comprado a prestações, e às vezes sem entrada. Foi uma aquisição na antiga Casa Victor, situada na Rua dos Andradas em Porto Alegre. Foi num Sábado que ele trouxe a aquela grande aquisição, pois ter uma bicicleta nova naquela época em 1958 era realizar um grande sonho.
Andava o meu amigo fazendo aquele show com a sua bela bicicleta no primeiro dia da compra e cheio de exibicionismo, mostrando os peitos, e não era para deixa por menos.
Então depois que ele andou bastante, eu pedi para dar uma “voltinha naquela beleza”. Como fui atendido, peguei com ganância e saí pedalando lomba a baixo.
A nossa rua era formada por um declive muito acentuado, e aquela descida numa bicicleta nova foi uma grande aventura, com muito deslumbre e uma emoção jamais vista. Completei a descida, e depois dobrei uma rua para a direita e peguei a Vicente da Fontoura e segui reto, até atravessar a Avenida Protásio Alves, enfrentando os carros... Que carros, naquela época era possível atravessá-la até de olhos fechados.
Quando eu me encontrava na Rua Vicente da Fontoura, estava me dirigindo ou pedalando a bicicleta pela calçada, e como quase não havia carros, o que contribuiu pela falta de cuidado de um piá como eu, resolvi sair da calçada, embalado pela emoção e dando pedal para entrar na rua com toda a velocidade, como se eu fosse o dono do mundo, mas não era e dei de cara com um fusca. Foi tão rápido, que não pensei a frear, e bati com a bicicleta no seu para-choque, que aparou o choque, mas e em consequência da freada que me impulsionou para frente, e fui cair em cima do capô amarrotando-o, e embutindo o seu capo para dentro.
Olha o susto que levei, e imagina o susto que levou o motorista, que saiu do carro dando aquela bronca que eu merecia. Eu peguei a bicicleta, ou melhor, o resto dela a coloquei nas costas e subi a Lucas de Oliveira com aquele troféu erguido nos ombros, sem olhar para os lados e o pessoal em frente das casas, quietos, mas eu chegava sentir alguns colocando a mão na boca e dizendo “hiiiii”.
Sem saber o que dizer para o meu amigo, e não precisei dizer nada, só mostrei a arte que acabara de fazer para ele que olhou todo o estrago. Só me disse: Tu acabaste com a festa. E agora! Por sorte na Segunda Feira, o Luiz levou a bicicleta para a Casa Victor, e lhes entregou e aquele monte de ferros torcidos e disse: Eu não vou mais pagar as prestações, olha só o que a bicicleta me fez e o que eu fiz com ela. E saiu porta fora. Nunca recebeu nenhuma cobrança. Acho que o atendente deve ter achado que o prejuízo poderia ficar pior se tivessem que indenizar o cliente por alguma falha de montagem ou no freio. Mas a falha foi na “peça” que estava dirigindo.