Chaminé de barro

Chaminé de barro

A demolição da chaminé da extinta unidade da fábrica de tecidos de Pitangui é a parte mais visível e impactante de todo um ciclo histórico-econômico de várias décadas, de que contemporâneos, e eu, chegamos a conhecer o auge - e o cruel declínio.

Sobranceiro, esse gritante símbolo de uma época, até épica, de nossa formação esboroa-se diante de nossos incrédulos olhos, tijolo por tijolo da descontrução deste país que, globolotomizado é capaz de achar Chico um tolo.

Mas coube a Noel Rosa celebrizar a Chaminé de Barro, com o seu Três Apitos, numa época risonha é que Bangu da tecelagem tinha cara de Moça Bonita. E o Domingos da Guia jogava ainda mais do que O Divino, filho que para a Academia entraria e de lá nunca mais sairia...

Foi apaixonante, nada obstante, ver a grita dos pitanguienses na defesa desse símbolo da cidade que cede lugar à voz mais forte do interesse imobiliário. E não falaram no vazio os protestadores que, curiosamente, irmanaram-se, apesar das irreconciliáveis diferenças galo-raposinas que marcam nosso cotidiano. Não, não. O novo proprietário do espaço contestou com argumentação bem fundamentada e irrespondível. E sua bem sucedida trajetória empresarial corrobora seu posicionamento: restaurou e se empenha em restaurar verdadeiros monumentos arquitetônicos da cidade, sem contudo, uma contrapartida econômica ou de apoio além do institucional.

E a economia segue ditando nossas regras de vida. Mais que o malogro de nossa outrora poderosa indústria têxtil, foram o capitalismo-comunista e a inovação chinesa que botaram por terra a nossa chaminé de barro - de berro e de birra...Um microcosmo do Brasil, não soubemos ou pudemos responder à altura... falta de uma visão mais holística de nossos governantes, empresariado e sindicatos, pelo bem da nação. O que temos visto mais não é mais que bem danação...Temer o quê, então?

E de pensar que, pouco depois de mudado do Brumado para Pitangui, sempre ligado à fapa, onde tios e pais tiraram o sustento por meio do modesto, mas sagrado, ordenado, acompanhei a construção dessa chaminé, no final dos anos cinquenta quiçá, do alpendre de minha casa, ela que substituía a uma mais antiga, menos possante...e, quem diria, a mais significativa das ereções do chefe-construtor Miguel Arcanjo, para quem não soube ou sabe quem é, avô de nosso, esse sim, só nosso, Pelé...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 13/05/2017
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