PENSANDO NA VIDA
Tem dias que eu fico
pensando na vida
e sinceramente
não vejo saída
(Chico Buarque de Hollanda)
Quando a luz do sol se escapa pelo horizonte e alguns grãos na minha panela lentamente cozinham, fico sentado quietinho, pensando como foi o dia. Pensando no dia de hoje, posso fazer talvez do amanhã um dia melhor. E se hoje foi um dia bom ou ruim, isso depende dos erros e acertos de quem acorda cedo e vai à luta, mas depende também da sorte e dos azares. Desviar-se dos azares é tão complicado quanto desviar-se dos pingos da chuva. Mas hoje não choveu, ainda bem.
Fazendo as coisas do dia a dia, aliás tantas e tão urgentes, não dá para pensar muito. Tudo obedece a uma mecânica. Só depois, com a inércia, é que os pensamentos vêm e a gente tenta entender tudo o que houve ao redor, por baixo e por cima.
"Penso, logo existo", foi o que disse e escreveu William Shakespeare. Sigo esse raciocínio, mas ao contrário. É o existir que me leva a pensar. Pensar no quê? Na vida, é claro. Mas o fato é que a vida não melhora muito quando a gente nela pensa. As decisões e as escolhas nem sempre são as melhores.
Certa vez estive observando uma turma de faxineiros fazendo a limpeza das salas de aula da UFRJ. Um rapaz novo recém contratado parou de repente de varrer e ficou quieto, olhando para o nada, alheio ao próprio serviço. Parecia estar matutando na célebre questão: "Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?". O chefe, sério e carrancudo, então notou-o e disse: "Vamos, vamos, rapaz, parou por quê? Não pensa na vida, não. Esse negócio de pensar na vida não dá nada pra ninguém".
Provavelmente ele tinha razão, pensar na vida só a faz atrasar-se, ou pelo menos atrasa o andamento das coisas. Meditações também não levam a nada, a não ser que o pensador seja um gênio. Mas eu, na minha pequenez, acho que o mais correto é comer este arroz e depois ir para a cama dormir, que o amanhã será outro dia implacável.