ESCULTURA QUE DEU CERTO

Eu tive o convite de uma empresária para fazer uma escultura de parede com a finalidade de adornar a frente da sua lareira. Era uma casa construída com requintes de arquitetura. Ela me falou que tinha feito um contato com outro escultor, mas este desistiu por ver a suntuosidade do ambiente.
Fiz as medidas da lareira e dialoguei sobre as preferências da empresária, e fui para meu escritório “leia-se minha casa”. E fiz vários desenhos de aves exóticas e escolhi um. A empresária já tinha me dito da sua preferência por aves. Levei ao seu conhecimento o desenho e lhe expliquei como seria feito, primeiro eu faria três modelos em madeira, depois iria fundi-lo e colocar com pinos, salientes em frente à lareira para projetar uma sombra da obra.
Ela gostou da ideia e disse-me - pode fazê-lo. Não perguntou o preço apenas autorizou a feitura. Após todo o trabalho ficar pronto a empresária chamou o seu arquiteto e seu construtor, para a colocação da obra. Após a colocação da ave que por estar saliente da parede projetou uma sombra que deu um toque todo especial na composição - então eu tinha levado a minha flauta e toquei na abertura, a música EL CONDOR PASSA, dando o brilho final.
Foi só aí que a empresária perguntou o preço e quando eu lhe apresentei o orçamento, ela prontamente pegou o talão de cheques, entregou-me o pagamento e disse muito obrigado por ter acertado no trabalho pedido por mim. Um artista de palco gosta de aplausos, mas nós como escultores, queremos que o cliente sinta-se contente e se emocione com a obra, e isso tramite a nós mesmos.
No dia seguinte estacionou um carro em frente da minha casa. Era a mesma empresária me agradecendo mais uma vez, e dizendo que eu poderia cobrar mais pela peça que ela iria me pagar. Eu lhe disse que obras não têm preço, mas eu tive que cobrar um valor técnico e o preço maior foi a sua satisfação e também a minha. Não aceitei o valor a mais, mas a confirmação em acertar a obra foi para mim o maior pagamento, e naquele momento foi como se eu fosse um artista de palco recebendo os meus aplausos. Uma obra teve o seu lugar e a sua importância e a minha satisfação, por uma obra que deu certo. Às vezes não dá.


 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 12/05/2017
Reeditado em 04/02/2021
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