LUTAS EM BAR DE ESTRADA

Nós também participávamos de rodadas de lutas cênicas em La Paz e pelas cidades do interior. Uma vez fomos escalados para participar de uma noitada numa dessas cidades interioranas. Na noite anterior à nossa apresentação, os lutadores que integravam nossa trupe, queriam tomar algo, mas não tinha nenhum bar próximo, então um teve a ideia de pegarmos um táxi, que eram jipes Toyotas. O motorista nos falou que havia um baile de beira de estrada, alguns quilômetros saindo da cidade. Eram 11 horas da noite e o fandango estava bem animado. Entramos e um dos lutadores pediu um pisco, que é uma bebida similar a nossa cachaça, tomou alguns goles, acabou discutindo com um cliente que disse que o lutador tinha se engraçado com a sua mulher. Coisas de lutador e com pisco na cabeça, e se bem que mulher bonita é para ser olhada, mas respeitada.
A coisa tomou uma proporção maior, depois que o lutador deu um tapa de leve no rosto da mulher, que revidou. O cliente amigo da mulher alertou os demais: os visitantes são cachascanistas, que queria dizer que éramos lutadores de catch. Imagina, a maioria era de amigos, empolgados pelas bebidas, num baile a beira da estrada. Imagina o forró que deu.
A confusão acabava de se alastrar, e os bailantes agarraram banquinhos de madeira e garrafas quebradas e vieram para cima de nós. A turma se separou pelas ações das lutas e foi cada um por sua conta e risco defendendo-se para sair vivo daquela bagunça.
Eu me lembro de sair com um banquinho nas mãos, abrindo caminho com socos e bancadas. Consegui sair para a rua, com a turma atrás de mim, mas meio tonto, pois à medida que eu batia, também eles me batiam, corri para o lado oposto ao táxi, numa rua escura, sem saber para onde iria parar, mas resolvi já que ainda estava consciente, voltar ao encontro dos meus perseguidores e rumo ao táxi.
Como eu tinha uma condição física boa e possuía de uma grande agilidade, não tive muita dificuldade em passar pelos que queriam acabar comigo e com certeza iriam me matar. Mas o Scaramouche foi a salvação.
Realmente o encontro certo era o táxi, cujo motorista esperou até eu entrar e colocar mais um para dentro, pelos fundilhos e sumimos daquele lugar maldito. Além de perder meus, óculos, de alguns hematomas pequenos, uma pedrada na cabeça, e é claro que também fiz o meu estrago, com alguns socos e por conta do banco.
Os demais lutadores todos com hematomas, mas um deles teve um corte bem profundo na altura da cabeça, provavelmente por uma pancada com um banquinho. A nossa salvação foi com certeza, a nossa condição física.
No hotel, tentamos costurar com agulha, com linha doméstica, mas não logramos êxitos. Eles não queriam ir para posto de saúde, o que poderia causar confusão com a polícia. Mas por insistência minha acabamos o levando a uma enfermaria, onde eu aleguei que o corte foi provocado por ele ter subido na Toyota pela parte de trás, escorregou o pé e bateu a cabeça. Acreditaram na nossa desculpa. Lá foram feitos os devidos curativos e pontos, mas ele não teve condições de participar da luta na noite seguinte. Os demais lutaram atentos e os que ficavam na retaguarda, também eram os mais alertas. Mas na continuidade o resto correu tudo bem, menos à repreensão que tivemos que ouvir bem caladinhos, em espanhol, do empresário.

 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 12/05/2017
Reeditado em 05/02/2021
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