ARTES DE CRIANÇA NA DÉCADA DE 50
Quando eu completei a idade para iniciar os estudos do primário, já morando na cidade de Passo Fundo/RS, fui matriculado no colégio municipal Fagundes dos Reis. O outro colégio que era concorrente e bem conhecido era o Protásio Alves, cujos alunos nos chamavam de farinha rançosa (FR) e nós os chamávamos de pato assado (PA).
Usávamos um guarda-pó branco, com as iniciais alusivas aos respectivos colégios, PF e PA. Nas paradas de Sete de Setembro era para nós, uma grande festa, onde nós arrumávamos nosso tapapo branco, bem engomado e passado, usando tênis brancos devidamente lavados e às vezes nós passávamos giz branco para melhorar a sua aparência.
Os colégios declarando guerra, no bom sentido, para ver quem desfilava melhor, quem tinha a melhor bateria, em fim quem se apresentava com o melhor desempenho e qual o colégio era o mais aplaudido pelo público assistente.
Aí vinham os deboches de uma turma com a outra. Eram as brincadeiras da época feitas de uma forma mais saudável. E eu tinha as minhas restrições em acompanhar a turma, pois eu era o mais medroso e encabulado. Mas mesmo assim de uma forma mais escondidinho também participava.
As poucas lembranças de que guardo na cidade de Passo Fundo é dos meus amigos, minha família. Vivi de uma maneira, livre, como toda a criança adorava.
Gostava de colher a fruta ariticum que também é conhecida como fruta do conde. Um dia, nós vimos um pé carregado de araticum, após a entrada de uma casa. Era um pé frondoso e alto, eu magrinho subi, e subi mais e fui parar numa das partes mais altas, até parecia que eu não era tão medroso, mas depois de carregar os bolsos de araticum olhei para baixo, vi que os meus amigos tinham descido e corrido em disparada. Ué! o que deu neles perguntei a mim mesmo. Mas descobri que foi pelo fato do dono da casa ter aparecido, não dando tempo de eu descer, fiquei lá em cima encolhido e ai sim, morrendo de medo, até que o dono por algum tempo, ficou apoiando com seus braços no portão, e quanto mais tempo ele ali ficava, aumentava proporcionalmente o meu medo, depois ele cansou - e eu também, e dono voltou para dentro da casa, quando eu desci, com as pernas tremendo, e empreendi uma grande fuga, após a descida, triunfal e fui correndo para a casa, com o intuito de brindar e brincar com o meu cachorro Uruguai.
No meu tempo de criança nós tínhamos medo e respeito dos adultos, mas, hoje nenhum moleque tem medo e nem respeito dos adultos e se algum adulto ofender ou tocar fisicamente num moleque dá processo, seja o próprio filho ou de outrem.
Eu era quieto e sempre agradava as professoras pelo bom comportamento. Nascido com família grande, meu pai era pedreiro e também, barbeiro e bodegueiro. Minha mãe tinha a responsabilidade de cuidar dos filhos, trabalho árduo, que operava com maestria e o melhor que podia fazer principalmente pela escassez financeira.
Pela proximidade de idade com o meu irmão Walter, que era 11 meses mais velhos, sempre tivemos uma melhor associação fraterna. Brincávamos juntos, e até nas malandragens éramos companheiros, só que eram malandragens bem mais saudáveis, das que são praticadas hoje.
Quando o Walter me convidava para matar aulas, eu não compartilhava, pois eu ainda vivia preso com os meus medos, e minha insegurança, e deixava-o curtir essa malandragem, que iria pagar mais tarde, pelo atraso nos estudos.
Ainda me lembro de um causo de briga junto com o Walter. Estávamos caminhando juntos, e um guri, com envergadura maior que a nossa, zombou de nós e principalmente de mim que era o mais magro. Meu irmão apanhou um pedaço de tijolo e o jogou com tal força nas costas do nosso desafeto, e em ato contínuo, saímos correndo em direção a nossa casa, enquanto o zombador se recuperava da tijolada. Não devemos subestimar os mais fracos, senão podemos levar uma tijolada nas costas.