UM SONHO
Por Gustavo do Carmo
Saía da minha faculdade em Botafogo. Eu já sou formado em jornalismo há quase vinte anos, voltei para estudar publicidade e me formei há treze, mas de repente voltei a estudar não sei pra quê. Caminhava pela Muniz Barreto, entrei na Marquês de Olinda e num passe de mágica saí na Barata Ribeiro, em Copacabana. Juro que eu não bebi.
Estava com um amigo meu, que estudou comigo desde o primeiro período de jornalismo, há vinte e um anos. Louco por revistas importadas de automóveis, queria mesmo era procurar algum periódico no shopping da Praia de Botafogo.
Entramos na Siqueira Campos e saímos novamente... na Praia de Botafogo. Que em alguns minutos se transformou na Avenida Atlântica. Ou no que restou dela. O mar havia tomado conta do Rio de Janeiro. Passava pelas pessoas apavoradas que me bloqueavam pedindo, pelo amor de Deus, que não desse mais um passo, pois a avenida estava inundada. A onda já batia forte na calçada dos prédios. Carros já foram destruídos e pessoas morreram afogadas e levadas pelo mar.
Meu amigo tentou me convencer a voltar. Teimoso, eu decidi continuar. Ainda não contei, mas queria passear no shopping para esfriar a cabeça depois de mais uma frustração amorosa por uma mulher, como as muitas que eu tive nos primeiros períodos da primeira faculdade.
As ruas transversais atrás de mim já haviam se transformado em mar. Não lembro se o meu amigo conseguiu voltar ou foi engolido. Só tenho certeza de que comigo ele não seguiu. Eu continuei andando. A polícia ainda não me parou, Talvez já tenha sido devorada pelas águas também.
Segui. Os prédios da orla que já misturava Copacabana e Botafogo se transformaram em casas baixas. Passei por uma pequena oficina. Já não sabia mais onde eu estava. Não era a Atlântica e nem a Praia de Botafogo. Parecia uma cidade praieira do interior. Talvez de alguma cidade europeia, pois eu via carros que eu tinha certeza de que não existiam no Brasil, embora fossem parecidos. Marquei o lugar para voltar quando desistisse de caminhar. O diabo não estava tão feio como pintaram. Atrás de mim, dava para voltar. Pelo menos correndo.
Quando já estava na Praça das Águas, em Cabo Frio, resolvi voltar. Realmente não dava mais para seguir. Não havia mais calçada. Só oceano.
Finalmente um policial me proibiu de passar. Mas era tarde e eu já tinha decidido voltar. Correndo, como era esperado. Não deu tempo. Fui surpreendido por um turbilhão de água salgada nos meus olhos e no ouvido, que é meu ponto fraco.
Acordei de um pesadelo. O Rio continua lindo e livre de tsunamis.