Devaneios

Não, não quero que ninguém leia. Estou escrevendo por extrema necessidade... há dias eu necessito deixar algo aqui no papel. Há dias vivo atormentada sem nenhuma chama a mais em meu coração.

O ato de escrever me alivia. Me liberta inteiramente. Não, não tenho sido orgulhosa, muito pelo contrário: não há mais bom costume do que a humildade.

Mas o dia de hoje está inesperadamente estranho ao meu ver e a inspiração provoca-me arrepios quando está por vir... não aguento minha solidão, mais. Tanto tempo tenho sido solitária... vejo-os todos sumirem e eu, novamente, deixada para trás.

É que eu acordei mesmo toda assim, jogada nos meus mares de cólera, quase que às cinco da manhã, com dores nos músculos... e a chuva começava se mostrando na janela. Olho para fora e começo a ouvir (até que um pouco de repente) as gotas de chuva, e o ruído almentava cada vez mais. No vidro, escorriam gotas da chuva fria. Tão gelada ideia de ser acordada de repente e sem prenúncio por algo meu e que, por ser vivo, lbra-se de ser matéria faiscante e se dói. Lembro-me de enfim ter alma.

Então pus-me a dormir e acordei pouco depois, com meus filhos sobre a cama. A alegria se refaz toda quando olho nos olhos do ser-felicodade. E eu os amo.

Acordei e não tinha luz, logo tomei um café de mau-gosto às luzes de uma vela. E a vela me queimava, mesmo, por dentro.

O mundo fora de casa sempre me arrancara de meua próprios braços. Sempre me perco pro mundo que me chama, e sempre tenho a visão infeliz de me ter partindo... aos risos desesperados e brincadeiras brutas distantes duma mulher que guarda o fogo do mundo no eco do peito.

Minha voz mesma ecoa em meu peito e então eu estou cada vez mais sozinha; cada vez mais, inaudível.

Como agora mesmo: inaudível pois que, que tipo de texto é esse? Poema, talvez, crônica, seja o que for, eu sou inaudível e meus escritos são, cada um em sua mais própria essência, invisíveis.

Não, senhores, sóis invisíveis também como leitores que me surgiram...mas não, senhores, eu não suporto viver. Eu não suporto a epifania de um segundo após o outro. Alguns dias eu não quero saber... nem mesmo das mais intensas alegrias. Meu filho veio até a porta de meu quarto e saiu agora. Por Deus, como tudo me dói. Meus filhos me dóem. Arrancam de mim, tempo e pedaços. Eu sou-lhes alimento.

Cheio de erros de português quando à máquina, meus escritos são feitos todos e sempre, de dor, amor e cólera.

Minha cólera, às vezes penso, é tudo o que resta de verdadeiro em mim. Mas é claro, estou hoje a pensar istp justamente porque estou a sentir leve raiva de mim... ou talvez muita raiva.

Meu amor, pois, é ardente e queima em mim partículas de um ser que nem eu mesma conhecia.

Eu sei porque: é que tudo me toca demais. Por Deus - isso! Por Deus. Hei de escrever para Deus, além de, para claro, aliviar minha dor.- Eu nunca sou uma chama de alegria. Nem tampouco me completo: talvez nada mais que leve companhia nas horas insônes.

Eu nem sei mesmo o que significa isso.

_Carolina L. Oliveira.