Jamais encontrou o  Elixir da Vida Longa, senão nas lendas de Flamel.  É próprio dele, Jeremias, declarar uma  verdade, depois negá-la. Questionar e provocar reflexão. Falsas ou verdadeiras, sobre o que pensa uma pedra. A Verdade  é uma pedra de tropeço. Também a mentira é uma pedra, que a serpente colocou no caminho, para impedir o  homem de se encontrar com Deus. 
Essas coisas faziam parte de suas divagações na busca infinda por resposta aos mistérios da existência humana. ‘Se não há vida após a morte, em vão fora a vigilância para não perder a salvação. Os sacrifícios que fizera e a renúncia aos desejos da carne, tudo em vão. Também Chanana buscava salvar sua alma como náufrago à deriva, lutando contra a compulsão que a empurrava a banalizar o projeto de Deus para sua vida. A tábua de salvação seria confessar os pecados. E confessou. Contou que sonhava na cama com um homem, e para evitar interrogações, dizia logo que não via o rosto, embora  a vontade fosse de revelar que era o padre a figura masculina de suas elucubrações. Certo dia, durante uma confissão ela  quase vomitou e pediu que o sacerdote lhe desse logo a bênção ou a condenação eterna. 
 O Catecismo da Igreja nos ensina que ‘o pecado mortal só é consumado se houver pleno conhecimento e consentimento. ’  Os  sonhos são involuntários. Portanto, não há  pecado, quando não houver  deliberado desejo de pecar. Os sonhos vêm e se vão, sem representar,  necessariamente, significados relevantes. É preciso vigiar, no entanto, se eles  arrastam desejos alimentados em vigília, ainda assim, o pecado só se consolida com a prática do ato pecaminoso. Os sonhos são involuntários. Alguns podem manifestar a vontade divina, e não raro, a humana.
As palavras do sacerdote levou a penitente a recordar-se de seu sonho, manifesto no desejo de ser mãe.
— Estou grávida! — disse ela entre lágrimas.
— O  Didaqué precede alguns livros da Bíblia Sagrada, e é seguido desde que surgiram as  primeiras comunidades cristãs. Nele já se achava escrito há mais de dois mil anos: ‘Não matarás criança por aborto, nem criança já nascida...’
Ela nunca ouvira falar em Didaqué, e se impressionou ao ouvir a palavra aborto.
— Como  ele pode  saber que  pensava em abortar?
O padre continuou:
—  Não te afaste, pois desta doutrina que vem desde os tempos dos primeiros cristãos. Vá em paz, minha filha! — Disse após ministrar a absolvição dos pecados. 
Corina dizia que em Montes Claros, nove meses depois da safra do pequi, a Santa Casa ficava cheia de mulher parida, e não eram raros os partos duplos. Mito ou verdade? A TV apresentava documentário em que um médico afirmava: ‘Fatores hormonais podem contribuir para que a mulher grávida sinta mais desejo sexual durante a gestação...’ 
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Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...