Que não me defendam os carecas!
Imaginem alguém me contando uma piada de careca. Nunca contaram, mas as que leio nos livrinhos de piada e na internet sempre me fazem gargalhar. Pra quem não me conhece e não reparou ali na foto, confirmo: sou careca. Me divirto com as piadas.
Lembro de uma vez um primo ter visto uma foto minha e comentar que o cabelo andava cada vez mais sumido. Isso foi em 2011, ou seja, de lá pra cá, minha superfície ganhou mais algumas áreas lustrosas. O primo fez o comentário e eu ri. Não fico ofendido com piada de careca, nem de gordo. Já devem ter adivinhado que também não sou exatamente magro.
Agora, imaginem que tenho um amigo careca e que fica muito prostituto da vida ou melancólico quando contam piada de careca para ele. Ou que reage com indignação se derem a ele de presente um shampoo, peruca, elástico de amarrar cabelo, aparelho de chapinha ou qualquer outro objeto que resulte numa brincadeira que o amigo considere de mau gosto. O que fazer? NÃO contem piada pra ele. Não brinquem com ele. Brinquem comigo, que escuto as anedotas, racho o bico e não estou nem aí pra paçoca. Simples, não?
Pois sugiro que - especialmente nestes tempos que corremos risco de levar umas vassouradas do politicamente correto - todos apliquemos o comportamento citado acima com relação à loira, o baixinho, português, magro, deficiente visual, negro, turco, japonês, mineiro, caipira, gay ou nordestino. Seu amigo é neto de portugueses e você enche o saco dele contando piada de português? Ele se importa? Não? Então pode aloprar à vontade. Morreu assunto.
Agora imaginemos uma outra situação, quase surreal, relacionada ao caso: vocês me contam piada, fazem algum comentário na minha foto tirando um sarro, eu gargalho (às vezes mando ir pro inferno e pra outros lugares também, mas gargalhar, gargalho sempre) e OUTROS CARECAS presenciam a chacota, tomam as dores e botam a boca no trombone. Imaginem eu recebendo centenas de mensagens de apoio, e os amigos se mobilizando num #somostodosgabriel, enviando frases como "não se abale não, sua carequinha é linda", ou coisa do tipo, ficando ofendidos por mim. Desnecessário, não acham? Lembram do episódio recente com a assistente do Danilo Gentili e a piada do ovo de páscoa? Pois bem, quanto a esses mordidos não tem jeito: é lamentar o ponto a que chegamos e lembrar com saudade das piadas e expressões do Costinha, Chico Anysio, Mussum e outros grandes mestres do humor que viveram o melhor dos tempos, com liberdade. Tempo em que de que não era necessário usar cabresto na língua.