TRÊS PASSARINHOS

Maio de 2013


Eu me sinto muito confortável em falar sobre os animais, pois são seres muito puros. Eu até invejo as suas formas de viver, apesar de ser um viver muito temido pelo homem.
Mas vou falar de passarinhos, uma das criaturas chamadas de animais mais alegres e formosas dentro da sua espécie. Formosas pela grande diversidade e variedade que as tornam com belezas insuperáveis.
São criaturas alegres porque emitem sons com cantos penetrantes e longínquos. Só faltava voar – mas elas voam, pois também têm esse dom da natureza. Algumas não voam, pois estão presas e confinadas em gaiolas por “seres humanos” tolhendo a sua liberdade. Sem voar, elas não podem ser consideradas pássaros, pois para isso têm que voar. E os seus cantos, de passarinhos aprisionados, será que não são um tipo de apelo ou solicitação de querer resgatar o seu lado passarinho e ter o mundo aos seus pés? É bom pensar.
Dentro da minha garagem um sabiá fez um ninho. Eu pensei em retirá-lo daquele lugar, pois com o barulho dos motores do carro e da moto, não seria um ambiente próprio para colocar os seus ovos. Então, após olhar e ver que os ovos não tinham sidos depositados, retirei o ninho para que o meu amigo sabiá o fizesse em outro lugar.
Saí naquele fim de semana e quando voltei ali estava outro ninho exatamente no mesmo lugar - eu também não sabia que os pássaros faziam ninhos tão rápidos e aquele sabiá tinha muita pressa, e parece que sabia onde deveria colocar o seu ninho.
Fui novamente olhar o ninho para ver se não tinha ovos, para novamente retirá-lo. Para surpresa minha tinham três lindos ovinhos. Ali estavam para nascerem mais três vidas, animais que com certeza o mundo lhes receberia com os braços abertos.
Eu continuei pensando. Eu pensei - e como já aprendi por pensar - que o sabiá escolheu este lugar, e eles, os sabiás, devem saber com sua sabedoria de passarinho, onde devem escolher para colocar o seu ninho, para cuidar de seus filhotes.
Como os sabiás estão acostumados com os barulhos da cidade, acho que não iriam se acovardar com o barulho do motor da moto - quem sabe eles até apreciem um pouco estes doidos motociclistas com suas máquinas barulhentas. Mas a minha moto era até comportada, tinha um motor que agia de forma silenciosa.
Ficamos eu e minha esposa só curtindo a mãe chocando os ovos, até eles eclodirem. A passarinha nem estava preocupada com a nossa presença discreta, e até deixava nós chegarmos bem próximo e ficava parada com aqueles olhos bem arregalados, só controlando os nossos movimentos.
Vimos com muita alegria os três bicos dos filhotes com as bocas abertas e a passarinha lhes trazendo alimentos a todo o momento. Que animaizinhos comilões.
Ficamos na expectativa de quando eles abandonariam o ninho e voariam para conhecer o mundo estranho e grande demais para aqueles pequenos e até indefesos passarinhos. Mas perdemos o exato momento.
Quando vimos, eles estavam andando pelo pátio em zigue-zague, cambaleando, e eu me desviando deles, a pé ou de moto, e a passarinha lhe dando as instruções para a vida, ensinando aos seus filhotes que eles têm o dom de voar, ensinando como procurar sua comida. Mas, às vezes, ela mesma trazia um pouco de alimentação. A sua presença de mãe era permanente. Cuidou com mais carinho o último filhote, que ao que me parece tinha dificuldade de voar. Mas não dispensou cuidados para que aquele filhote mais atrasado se recuperasse e, junto com os demais, aprendesse as aulas básicas da vida e, assim, caíssem no mundo muito estranho para eles.
Mundo estranho, quem sabe, até para nós, em como continuar a aprender a viver e a como se defender nele. Que sejam esses três passarinhos felizes para substituir aqueles que já deixaram o nosso mundo.
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 10/05/2017
Reeditado em 17/11/2020
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