ÍNDIOS... CRIATURAS DO MUNDO

Quando eu andava de moto, com meus 55 anos, fazia parte de um bando de motociclistas chamados de ÁGUIAS DA LIBERDADE, que riscava as estradas do sul do país em busca de aventuras, conhecimentos e amizades.
Quando falamos em bandos em motos, posso dizer que o nosso bando era dos bons e de ordeiros, que se preocupava em andar de forma correta, sem pressa e preocupado com as classes menos favorecidas, e eu era um desses.
Um dos motociclistas falou mais ou menos assim: já ajudamos várias pessoas, quem sabe agora vamos ajudar alguma tribo de índio! Mas como? Perguntou outro. Nós vivemos numa cidade e aqui não tem tribos de índios, complementou. Mas eu sei de uma tribo de índios que vive na beira da RS 040, que vai até as praias de Cidreira.
Todos toparam. Seria mais uma aventura, divertimento, mas que envolvia uma tarefa altruísta. Fizemos algumas arrecadações em dinheiro e um dos motociclistas se prontificou em participar com a sua camioneta van. Fomos todos nós de motos e mais a camioneta comprar gêneros alimentícios e alguns brinquedos paras as crianças índias.
Um motociclista fez o contato com o cacique dos índios da nossa pretensão e eles ficaram muito felizes com a nossa iniciativa. No outro dia lá estávamos nós curtindo as nossas motos, riscando o asfalto com os pneus mais finos, de motos mais magrelas, e outros mais grossos, das possantes motos de altas cilindradas, indo direto à tribo dos índios que moravam às margens da RS 040.
Uns levaram mantimentos nos bagageiros e alforjes de suas motos, enquanto a camioneta ia quase sentando no asfalto, com tantos sacos de batatas e muitos outros mantimentos que dariam para os índios se alimentarem por algum tempo.
A nossa chegada, com todas aquelas motos, algumas barulhentas, pois motociclistas gostam de fazer barulho, assombraram os índios, ainda que eles, por morarem à beira da RS 040, já conhecessem aqueles cavalos de aço passantes em direção à praia. Mas nunca as tinham visto ao lado deles, onde podiam apalpar, e alguns até montaram, se exibindo, como fazem os estradeiros do asfalto.
Fomos recebidos como heróis das duas rodas. Os índios fizeram questão de nos agradecer, homenageando-nos com suas danças típicas, seus instrumentos rudimentares - tocaram flautas, tambores. Tinha um índio que era um instrumentista mais escolarizado, que tocava um tipo de violino artesanal, feito por eles mesmos. Ainda nos fizeram uma mostra de suas habilidades, de como fazer esculturas em madeiras, além de colares, pulseiras e outros artesanatos com suas tipicidades e valores indígenas.
Fizeram questão de demonstrar que eles, nas suas apresentações, obedeciam todos os comandos dos instrutores para manter uma disciplina tipicamente indígena.
Fizeram o seu show e ficaram muito agradecidos por saber que motoqueiros são boa gente. Nós ficamos felizes por pertencermos ao grupo denominado Águias da Liberdade, que além de nos exibirmos de motos, também somos parceiros do mundo e dos diferentes.
“OS DIFERENTES HOMENAGEANDO OS DIFERENTES”

 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 10/05/2017
Reeditado em 17/11/2020
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