A minha lista
Aparecida Linhares 
Serahnil 

"Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais"
É a primeira estrofe da poesia musicada
"A lista" de Oswaldo Montenegro. A tomo emprestada, cantarolando sempre que eu lembro de alguém que já fez parte da minha vida e hoje, não sei por onde anda, se está bem...
Nunca peguei caneta e papel para fazer a minha lista, ela está na minha memória-coração .
Da minha lista alguns eu tento retomar o contato: o telefone sempre cai em caixa com alguma fraseologia da companhia telefônica; no email que não vem a resposta, nos recados inbox que também fico sem retorno...
Não me recordo quantas vezes parei de cantar "A lista"  para ir ao telefone folheando a velha agenda, quase ninguém tem mais o telefone fixo e trocam de chip como de roupa... Ir ao email, ao face, ou qualquer outro canal de comunicação...
Faço isso, porque sei que lá está um nome, cuja pessoa está em minha lista de procura-se e eu gostaria muito de encontrá-la, alguém que por algum tempo esteve comigo e de uma hora para outra, já não está mais, não sei o motivo e eu não a esqueço.
Tem gente que evapora? É essa a sensação e não é das melhores. Eu não vou mentir que penso que: sumiu porque ganhou na megasena, ou porque a magoei...
Procuro ser otimista ao máximo dizendo a mim: "casou-se e mudou-se", mas  só vêm a mente pensamentos negativos, alheios à minha vontade. Apesar dos: "Encontros e despedidas" da cantora Maria Rita que diz, na segunda estrofe:
"Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai querer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar"...

É bom quando sabemos notícias de quem nos importamos! Saber notícias do lado de lá, dar notícias do lado de cá... Não é xeretar a vida alheia.
Até pra sair de um grupo whatsapp justifiquei-me, pois alguém lembrou-se de adicionar-me, sou adepta a retribuir gentilezas. Sair da vida de alguém então...Faço questão absoluta de dizer o motivo e "prestar contas".
Eu sei que entre tantos na minha lista, alguém se importará comigo, ninguém entrou para ela pela janela, eu abri a porta depois de saber quem era e disse: entre que a casa é sua...
Tenho uma lista bem significante de gente que chegou pra ficar, aqui estão e grata eu sou, mas sobram saudades e lembranças das pessoas que foram pra nunca mais voltar e eu sei, sobram também das que não sei se foram e não tiveram tempo de dizer: - estou indo...
Sobram saudades de quem saiu do meu convívio e eu não ouvi o bater da porta.
Valorizo os meus amigos e me preocupo, sinto falta dos que já estiveram assiduamente e sumiram, sinto saudade dos que ainda estão na minha lista da vida real e resolvo com um telefonema, uma mensagem whatsapp, um email, um almoço, encontrando na rua, fazendo ou recebendo uma visita...
No meu mundo virtual não é muito diferente, em dezessete anos fiz grandes e bons amigos, trocamos mensagens, falamos de nós e sobre nós, nossos gostos, nossas famílias... Às vezes até me esqueço de que nunca estivemos à distância de um abraço; por tanta afinidade e interação, tenho a impressão que sei até o cheiro que tem! Mas há um senão na amizade virtual, para alguns é um mundo fechado apenas para dois, são amigos dos amigos até cinco mil "amigos" e se blindam tanto, que ninguém conhece de fato ninguém...Conservam uma amizade virtual por anos que não é propagada para os demais familiares, assim de repente, aquele amigo (a) emudece e a pergunta que não cala é: que foi que aconteceu? A quem eu posso perguntar? Quem me dirá que está bem ou doente? Quem? Quem? Quem...
Passei por essa angústia com uma pessoa da minha lista virtual, de repente evaporou, incansável mandei emails, liguei inúmeras vezes para o número que estava sempre mudo, por meses o meu coração doía cada vez que eu pensava nessa pessoa querida. Tentei saber ligando para uma grande empresa, que foi mencionada em uma das nossas conversas, mas foi em vão, ninguém sabia... Depois de quase dois anos, após três dias de enviar mais um email, tive a felicidade de receber um email resposta, ela estava muito bem Graças a Deus, simplesmente perdeu o telefone com os seus contatos e abandonou a conta que nos comunicávamos, sem ter a menor preocupação de que alguém a valorizava, que fazia parte da minha lista.
No dia que resolveu ir ao seu desprezado correio eletrônico, espantou-se com a minha preocupação  e me telefonou, (tive o cuidado de novamente dar o meu número) inudando o meu coração de alegria, fiquei hiper feliz, então eu disse: agora que sei que está bem, que foi um erro medir o tamanho da sua amizade, seja feliz e até logo, pois nunca, nunca, nunca digo adeus. Tirei da minha lista.
Tenho alguns amigos silenciosos, mas nem sempre o silêncio é esquecimento, entendo por conhecer a rotina destes, estão à distância de um grito, os terei bem pertinho se gritar. 
Nem sempre o silêncio é por motivo de não valorizar a amizade, ou descaso com os amigos que "realmente/virtualmente" se importam. Eu me preocupo, sem invadir a privacidade, fico atenta a mudanças.
Minha primeira filha (ela não gosta "do filha mais velha"; gostou menos ainda do que eu já lhe pedi)  "morre" de medo do tema "morte", mas está ciente da minha lista, embora tenha me dado as costas como resposta, horrorizada por eu falar em minha finitude, ela sabe que tenho um caderninho com todas as minhas senhas reais e virtuais, nele também estão algumas das minhas vontades, dentre estas; avisar aos meus amigos pelos meus contatos telefônicos e afins, que eu fui...Deixando o meu até qualquer hora e pedindo que os mais próximos em distância, deixem os seus afazeres e venham acompanhar meu corpo ao condomínio  "Aqui jaz sem distinção ". Sem choro, sem velas e sem flores, prefiro flores enquanto vida eu tenha para apreciá-las, morto não precisa de flores, minhas flores serão a presença maciça de quem me tem em sua lista. A um pedido minha filha parou e me disse: - aí você forçou! É simples o meu querer, apenas quero um som ambiente, bem baixinho, que deve estar tocando ininterruptamente "Endless love" , tenho o CD gravado há uns oito anos.
Minhas senhas virtuais devem ir para minha amiga-irmã expert em computação, ela saberá aonde ir para apagar os meus rastros na web. Principalmente no facebook, que ano passado me deixou em choque ao dizer: "talvez você conheça" e me apresentou a Cassinha... Ela que nos deixou atônitos com a sua partida tão precoce, a doce menina-mulher, ninguém da família ou amigos sabe qual é a senha, nada deixou anotado, assim, está se tornando uma rotina eu ver aquele rostinho meigo e bonito, com olhos azuis como o céu, olhando pra mim no face, já não choro, mas me pergunto; por que as pessoas se blindam tanto? Calam-se tanto? De que se protegem dentro da própria família? Por que tantas senhas guardadas a sete chaves?
Pode parecer mórbido os meus cuidados, mas para mim é algo que deve ser pensado como tudo o que faço. Por que causa tanto horror nas pessoas falar sobre algo que sabemos ser certo e inevitável a qualquer milésimo? Minha filha acha um assunto para deixar para depois e calma eu lhe pergunto:
- quando é depois?
Talvez,  não haja tempo para o depois...
Quero poupar aos meus amigos de fato, que eu amo e são reais e  leais, a angustia que já vivi,  saber no meio da rua por um amigo em comum que determinada pessoa que eu via sempre e sumiu, já tinha falecido há meses. 
O fato de alguns desses caros amigos serem virtuais, é apenas um detalhe.
Ao contrário de muitos, que dizem orgulhosos contarem nos seus dedos de uma mão os amigos, eu tenho o maior prazer em dizer, que os meus amigos não cabem se contados nos dedos das minhas mãos e dos meus pés.
Eu sei que entre tantos, algum se importará, se preocupará, se sentirá esquecido por mim, caso eu "suma" ...
Portanto peço que usem a minha lista de contatos, mesmo que alguns amigos não pensem como eu, não queiram saber, mas me tendo em suas listas...
Aparecida Linhares (Serahnil)
Enviado por Aparecida Linhares (Serahnil) em 10/05/2017
Reeditado em 19/06/2017
Código do texto: T5994739
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