SERES DO ABSURDO.

Andando pelas ruas de São Leopoldo, deparei-me com um vulto de homem, sim parecia um vulto, pelas suas maneiras de trajar e de andar, morador de rua sim, nunca estudou, e nem aprendeu a escrever o próprio nome, sua missão era varrer as ruas com sua vassoura e esperar da boa vontade dos moradores, para ganhar uns trocados ou uma alimentação, sentado em um banco, puxava conversa com todos os passantes, ele era parte da família, pois como morador naquela rua, por mais de 25 anos, conhecia todos hábitos do povo. Acostumamos a aceitar o seu modo de vida, pois muitas pessoas tentaram tirá-lo da rua dando-lhes abrigo, e alimentação, mas sempre voltava para a Rua São João, pois era dali que gostava e sentia-se bem.
Resolvi abordá-lo e fazer-lhes alguns questionamento, como curiosidade, sobre a sua vida e a sua maneira de viver ao seu jeito, como um mendigo parecendo uma criatura do absurdo. Fiquei sabendo que aquela criatura não seria tão absurda muito embora parecia ser... Ou quem sabe era.
Ele tinha 83 anos, não trabalhava, dizia que não precisava, pois ganhava comidas e bebidas e até alguns presentes dos indivíduos passantes, que não eram criaturas do absurdo, pois seguiam as normas do mundo, trabalhavam, estudavam, mantinham seus compromissos, com ele, com os seus, e também com o mundo, mas estas criaturas passantes tinham em sua maioria um fenômeno que se chamava stress, o que os levava a outros problemas, que o meu entrevistado considerava criaturas do absurdo.
Então eu fiquei pensando, quem são realmente as criaturas do absurdo? Um senhor que levava uma vida feliz do seu jeito, morador de rua por opção, andando na sua forma lenta, despreocupado, carregando uma vassoura, que às vezes varria o chão em frente das casas e era a única coisa que fazia, ou eram as pessoas que passavam por ele sem ao menos olhar e responder ao seu bom dia! .
Era espancado e saqueado, seus poucos pertences não lhes pertenciam, sua paz também lhe abandonou, levando a ser convencido por um assistente social, a sair das ruas. Hoje mora no asilo municipal, com TV no quarto, nutricionista cuidando de sua dieta, pois descobriu a diabete, alem de sofrer de elefantíase. A sua reclamação atualmente, é a saudade dos amigos e moradores da Rua São João, cobrando nossa visita principalmente nas datas festivas. Ele deixava nossas calçadas um pouco mais limpa, e nossa vida mais real, pois nos levava a uma reflexão sobre o verdadeiro valor da vida e como se é feliz com pouco. Uma pessoa que chegou aos 83 anos em 2014...Do seu jeito...Parece um absurdo? Ou não -  aida vive no ano de 2020
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 09/05/2017
Reeditado em 09/12/2020
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