Wabi-sabi
Se algum dia alguém me perguntasse qual a coisa mais incrível que eu já vi na minha vida, eu diria que é a vida em si mesma. Há uma explosão de sensações apenas no simples ato de ver o tempo passando e as pessoas transitando, como se eu fosse capaz de imaginar uma razão, uma existência, para cada uma delas. O rapaz que passa de bicicleta talvez esteja ouvindo Caetano enquanto pensa na prova do dia seguinte, aquela mesmo para qual ele não estudou. Ainda não ligou para a mãe naquele dia. A menina sentada no beiral é como eu, acredito. Ela olha o mundo e cantarola uma música que ninguém além dela mesma pode entender. Talvez seja algo como AC/DC e a TNT que ela sussurra sejam as pessoas que passam frente aos seus olhos. Sua mãe partiu há dois anos, e em noites como a que está por vir ela chora baixinho no alojamento. No canto mais distante, um homem dorme e seus sonhos são apenas seus. Há um limite, não é que eu não goste de imaginar, mas acredito que nossos sonhos quando sonhados são experiências individuais. Certamente ele vai chegar em casa mais cedo do que a esposa naquele dia, e o jantar ficará por conta dele.
Eu vejo a toda essa transitoriedade da vida e penso que apenas “wabi-sabi” descreve o que sinto. Essa palavra provém do japonês e descreve uma sensação como algo de “um fascínio pelo o que é passageiro e imperfeito”. O que mais representaria tão bem isso quanto o próprio ato de viver? Algo tão efêmero e ao mesmo tempo belo como as luzes que iluminam o céu em noites sem nuvens. Acredito que cada pessoa é uma estrela, porque cada estrela tem sua luz própria. Somos compostos dos mesmos materiais, apenas em uma escala menor. Queimamos oxigênio ao invés de hidrogênio e morremos por causa disso, e nosso poder destrutivo é tão massivo quanto de uma supernova. Elas destroem planetas e nós também. Se não acredita, olhe para o planeta em que você está. Mas está aí um perfeito, magnífico e estupendo exemplo de algo tão imperfeito e ao mesmo tempo fascinante. Uma perfeita imperfeição é apenas mais dos paradoxos que transformam a vida na porra de um paradoxo, mas sobre isso eu já falei.
Enquanto escrevo, o tempo passa. Eu continuo observando.
Postumamente, alguém lê essas palavras, e eu imagino uma vida para essa pessoa.