CEM GRAMAS DE COSTELA

Me desculpem os vegetarianos, mas minha constituição física, psicológica e de nascimento me obrigam a ingerir carne com certa frequência. Sou carnívoro.

Tanto que neste domingo resolvi ir a uma churrascaria especializada em costela, na minha opinião a melhor parte do boi, dando de relho na picanha e no contra filé.

Qual não foi minha surpresa e decepção ao me deparar com os maus tratos praticados a este precioso corte, e que é a causa deste desabafo público.

Esperava entrar em algo parecido com um restaurante, que servisse à moda espeto corrido, onde ficaria a admirar as janelas de costelas, refesteladas, circulando livremente por entre as mesas, exalando seus mais preciosos aromas, causando as mais incontáveis emoções. Sei que todos lendo esta parte do meu relato imaginaram a cena que falo, sentiram o cheiro desprendendo-se da peça e começaram salivar.

Em vez disso aproxima-se o garçom com o cardápio mostrando-me que a costela era servida em desprezíveis pedaços de cem gramas. Isso mesmo, insignificantes beliscos , minúsculos.

O que vem a ser um pedaço deste peso para alguém que sai de casa num domingo para comer costela? Se fosse sushi ou algum pudim. Quem sabe alguma guloseima em uma casa de doces qualquer, até mesmo sagu, tudo bem, mas costela? Meu apetite se esfumaça.

De qualquer modo peço o equivalente a cinco porções, sugestão do garçom, já que a Patrícia estava junto.

Uma maionese, farofa, uma porção de arroz e algumas batatas fritas para diminuir a decepção.

Aguardamos alguns minutos e chegam os pratos. Olho para o pedaço de carne a minha frente, sinto vergonha.

Lembro das lutas heroicas que meus conterrâneos enfrentaram, desbravando as terras inóspitas do sul do Brasil assentando ali sua querência. Dos sacrifícios para não abrir mão de seus ideais. Penso no amor por estas terras, pelo trabalho árduo de manter-se em pé diante de tantas adversidades. Imagino-os cavalgando em liberdade pelos pampas, atarefados no cuidado de seu gado, de sua criação. E ao final da lida saboreando a verdadeira costela. Inteira. Me veio à mente até um trecho do hino do Rio Grande.

Uma lágrima corre pelo meu rosto. De emoção? Lógico que não, de tristeza ao ver o tamanho do naco de carne em minha frente. Senti vergonha pelo boi que deu sua vida por mister tão miserável.

Lógico que comi a costela, sob protestos, em respeito ao boi.

Coloquei-a no centro do prato, ao lado da farofa e do arroz, a maionese num outro canto. Enquanto comia imaginava que logo, logo viria o garçom com a parte inteira da costela oferecendo-me um pedaço decente. Triste ilusão.

O mundo já foi bem melhor.