VIGIA, TODA EM FLOR !

"(...) frutas, peixes, cheiro e côr.

É VIGIA, toda em flor...

é a primavera nos ares"!

"NATO" AZEVEDO

(trecho de poesia / 1985)

De repente, não mais que de repente, eis que me vem do Passado um artista que admiro demais. "Tem um assunto urgente para tratar comigo", diz a mensagem (no FACE) de minha amiga cantora Lígia Saavedra. Unindo os 2, ou melhor, nós 3, o amor às Artes, à Música principalmente... concluo pensativo que sou um péssimo "marchand", todos os que procurei projetar "se fizeram" sozinhos ou sumiram na poeira dos tempos.

O multiartista SÍLVIO GUEDES, autodidata de raro talento, é certamente o maior "exemplo" de meu fracasso enquanto "manager" amador. A Amazônia é um celeiro de variados artistas, disse (e escrevi) isso em meus primeiros dias nestas plagas, por volta de 1984/85... se quizesse, a Região não precisaria derrubar "1 pé de pau", lhe bastaria apoiar e divulgar maciçamente tantos talentos natos nas mais diversas Artes.

Todavia não é o que sucede e os próprios artistas exibem seu dom como "artigo" de diversão de amigos e parentes e, adiante, o esquecem definitivamente. Quem sonha em continuar também desiste, por falta de materiais ou de recursos financeiros para sustentar a prática da atividade.

Filho, entre outros, de um pedreiro competente -- aliás, mestre de obras -- vi o pai rebocar uma sala inteira em meia tarde, praticamente sozinho, eu e Sílvio quase a atrapalhar o operário do barro. Aqui em Belém isso é "seuvisso" para 5 DIAS inteiros de 2 "enrolões", com gordas diárias... o têrmo AUTODIDATA nos dá uma certa desconfiança, somos inclinados a crer que alguém há de ter ensinado o sujeito. Pelo que me confidenciou Sílvio, teria acompanhado as criações de famoso pintor vigilengo, já não lembro mais o nome. Por caso isso basta para fazer de um energúmeno qualquer um bom artista ?! E as proporções entre os membros, mistura de cores, profundidade, espaço, iluminação, etc ?! Sílvio dominava tais nuances, vi-o pintar em menos de 40 minutos uma tela de 1 m X 0,60 cm com a "ajuda" de um pedaço... de chinelo ! Espantou-se ?! Quando dormiu em minha casa, por volta de 1993/94, acordou fazendo em poucos minutos expressivo quadro de arte moderna, derretendo vários lápis de cera com 1 vela e usando os dedos e uma faca para o acabamento. Numa outra casa, em 1988, musicou em poucos instantes letra minha sobre escravidão e preconceito, melodia belíssima dele, aguardando a mão do Destino para virar sucesso nacional.

SÍLVIO GUEDES passou "poucas e boas" comigo, enquanto "promotor" fracassado de outros tantos antes (e depois) dele, como o violeiro "Wal" Albuquerque, -- que "sumiu" nas ruas do bairro -- o desenhista de HQs "Bené" Nascimento (hoje internacional) que "enfiei" num jornaleco no qual trabalhei, além de minha própria dupla "sertaneja". Puz 2 quadros do Sílvio Guedes num leilão paroquial -- um dele era bela garça em relevo, feita em "papel maché" -- onde foram vendidos ao preço de carteira de cigarros barata. Levei-o para expor seus quadros no tal "Vadião", área de lazer da UFPA, com total desinteresse por parte de universitários e professores e tentei inscrevê-lo, sem sucesso, na Feira dos Artesãos da Praça da República,fazendo-o gastar tempo e dinheiro (com fotos, viagens e taxas) enquanto o diretor do espaço, um certo Alberto de tal y tal, nos dificultava tudo. Por fim, o "patife" disse ter esquecido (?!) bela obra de Sílvio -- cavalo branco entre palmeiras, no estilo de DJANIRA -- num táxi... intimado por mim a ressarcir o artista, respondeu que a obra fôra feita em "saco de açúcar" e que valia pouquíssimo, quase nada.

Irritado, puz o caso na Justiça (PROCON), essa "justiça" que tanto temo -- pelas "decisões" que toma -- e na qual não confio nem um pouco. "Dei com o burros n'água", a "juíza" da questão tinha o mesmo SOBRENOME do traste. FIM DA HISTÓRIA !!!

Ainda não sei o que há de tão urgente para ser resolvido mas, no que se refere à CULTURA em terras amazônicas, "pendurei as chuteiras" faz tempo ! Das boas lembranças de minha vivência na VIGIA -- onde só vi flores nos quadros de Sílvio -- me restou bela pintura de mar revolto e barco a vela "voando" sobre as ondas... obra que incentivei o Artista a pintar, a tela ficaria na sala de espera da esposa do Prefeito, dona Marlene Vasconcelos. Por achar a obra indecente (?!) -- havia uma jovem DE COSTAS, com biquini improvisado -- ela recusou e êle me doou a obra, de 1987, hoje no meu quarto e resistindo a tudo !

"NATO" AZEVEDO (poeta, compositor e escritor) 7/maio 2017