Um tapete persa
Hoje contarei a vocês uma breve história de uma sala e seu tapete. Era um tapete persa. Ficava bem no centro da sala. Todos o admiravam. Admiravam a sala em si. Porém, o tapete tinha uma serventia extra. A dona da casa varria a sala todos os dias. Mas, sabe quando você varre o cômodo e, por pura preguiça, acaba varrendo a sujeira pra debaixo do tapete? Então. Ela fazia isso. Deixava a sujeira ali, a bagunça ficava escondida e era apresentado, aos visitantes, uma sala limpa e sem poeira. Pobre tapete! Foi comprado apenas como um disfarce. Não é usado por sua beleza, nem por sua nacionalidade. Só serve para esconder a sujeira, que sempre é exposta quando ele é levantado para esconder coisas novas. É quase um ritual. Varre o pó da sala, levanta o tapete e coloca tudo lá embaixo. Tudo limpo. Venham ver que beleza! Essa casa é de dar inveja em qualquer um, só não olhem debaixo do tapete. Por favor, deixe ele lá. E as pessoas deixam. Nem se preocupam com o que está escondido, afinal, a sala está tão limpa! Tudo está tão bonito e feliz. Deixe a sujeira pra lá. Todos seguem assim. Fingem não saber de nada só porque não sabem o que dizer. Ela está bem. A sala ou a dona dela – entenda como quiser. Tudo nos conformes. E a vida segue. Ninguém ousa levantar o tapete. Ninguém se preocupa, de verdade, com a sujeira. Vão deixando ela lá. Sem receios. Cada um com seus problemas, seus disfarces, seus medos e suas sujeiras escondidas. Até que, um dia, o tapete não segura mais tudo aquilo. Poxa vida! Estava tudo tão limpo! De onde veio toda essa sujeira? Ela sempre esteve ali. E ainda está. Na sala de uma, duas, três, ou mil pessoas. Mas, quem se importa? Eu? Você?