RENUNCIANDO O TER

Uma das coisas que eu aprendi com o tempo, foi me questionar, porque, este tempo que percorri me levou a juntar tantas coisas, acho até que é uma cultura que faz parte de uma grande maioria das pessoas. Juntar colecionar e entupindo os nossos espaços, que serviam para que possamos nos locomover. Com o período dos anos vividos, adquiri um montão de tralhas, umas me atrapalham e outras às vezes são úteis, outras não servem para nada, mas são tantas as coisas - e para que preciso de tudo isso? - e muitas delas estão atrapalhando o meu caminho no lar, que deveriam estar mais livres - algumas tenho que limpar, e talvez nunca usá-las, e se um dia for usá-las, é porque estão ali, disponíveis, e porque esta ânsia de pensarmos que tantas coisas poderão nos serem mais útil em algum futuro, se a nossa existência é uma vida de passagem, e as coisas juntadas vão se somando a outras que iremos deixar para os nosso descendentes.   Então chegamos a um ponto, onde tenho que renunciar um pouco do ter, para liberar mais espaço no meu espaço, e cada vez que me desfaço de alguma das tralhas, parece que abro um espaço dentro de mim, e me sinto mais leve. O ambiente liberado me dá a impressão que minha visão alcança uma dimensão maior e sinto um espaço que me liberta e me deixa mais livre.   E quando eu me desfaço de algum utensílio, fico sempre imaginando, será que eu não vou precisá-lo posteriormente – não, não vou precisar, pois o posteriormente na minha idade vem rápido demais, e o que eu preciso mesmo é de mais espaço físico na minha residência e na minha vida e de viver mais despreocupado com o que eu vou precisar se é que vou, mas na realidade o que eu necessito é de uma vida desprovida de bens materiais, que ali na minha casa estão espalhados, impedindo a minha livre passagem. Há que saudades de Cora Coralina naquele trecho das coisas desnecessária, que transcrevo abaixo.

“FECHEI OS OLHOS E PEDI UM FAVOR AO VENTO: LEVE TUDO O QUE FOR DESNECESSÁRIO. ANDO CANSADA DE BOBAGENS PESADAS... DAQUI PARA FRENTE LEVO APENAS O QUE COUBER NO BOLSO E NO CORAÇÃO”.
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 07/05/2017
Reeditado em 17/11/2020
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