Estender as mãos
Por volta das das 10 horas daquela fria manhã de julho, os poucos passageiros se acomodaram nos bancos que estavam no meio do ônibus para o ínicio. Talvez inconscientemente escolhessem os mais próximos do motorista para se sentirem mais seguros naquela perigosa estrada cheia de curvas, sem acostamento e escorregadia junto à serra do mar. Havia nos dois primeiros bancos um casal com três filhos. As duas crianças maiores foram se sentar mais atrás. Enquanto eles ficaram com o menor no colo. Logo atrás, ainda do lado esquerdo do ônibus, do lado do motorista, duas amigas conversavam. E na poltrona seguinte, do mesmo lado, estava um tranqüila senhora senhora de pouco mais de 30 anos, Maiza.
Já do lado direito havia a pequena Vanessa de apenas quatro meses, no colo da jovem mãe. Ainda mais atrás havia dois homens, um em cada lado do corredor.
Transcorridos quase duas horas Vanessa começou a inquietar-se no colo da mãe, e pouco depois a inquietação transformou-se em um forte berreiro. Os passageiros começaram a virar a cabeça em direção à criança. Alguns até pensavam em um meio de ajudar a mãe, mas sabiam que nestes momentos o melhor colo é o materno. Outros, que tentavam dormir, sentiram-se incomodados com o barulho e o olhar denunciava uma certa crítica porque a mãe não conseguia controlar a criança.
A jovem sacudia o bebê tentando distrai-lo e já se sentindo impotente para acalmá-lo.
Maiza, percebendo a angústica da mãe, estendeu as mãos e pediu que ela lhe desse a criança. A jovem, ao entregá-la disse: "Agora que ela vai chorar mesmo", apesar de sentir um certo consolo porque alguém se dispôs a ajudá-la. Maiza desconsiderou a fala da mãe e calmamente começou a conversar com a criança, sem balançá-la. A pequena ainda esbouçou alguns gemidos mas foi se aquietando e com os olhos fixos em Maiza olhava para ela como se entendesse exatamente o que lhe falava. Estabeleceu-se a vibração do amor, da segurança, da paciência. Maiza compreendeu que a mãe, que ainda estava amamentando estava cansada e nervosa e não poderia dar o sossego que a criança necessitava naquele instante. O resto da viagem a criança permaneceu tranquila no colo de Maiza, para alívio dos outros passageiros. A mãe, vendo que a criança estava bem, de tanta fadiga, adormeceu agradecendo àquela que lhe estendeu as mãos. Maiza entregou a criança à mãe ao final da viagem e ficou com o agradável aroma de cheirinho de bebê em suas roupas e sentiu que quem mais ganhou foi ela mesma.