Náufragos
Sei de alguns náufragos.
Tom Hanks, como um Robinson pós-moderno e, claro, a incrível sacada do “Wilson” me ligaram no tema, mas os náufragos de que sei não têm mar; nem ilha, nem controle do tempo, estão por aí, jogados de onda em onda. Surtam na fumaça!
Lembro-me de um antigo, talvez o primeiro a que prestei atenção, um tiozinho que empurrava um carrinho de mão vendendo bugigangas que ninguém comprava. Ali tinha terços, cestos, banquetinhas e um espelho de médias proporções no qual sempre e sempre era refletida a imagem do tiozinho. Enquanto empurrava o carrinho vagarosamente pelas ruas de bairros dormitórios, num hábito desenvolvido pouco a pouco, de forma quase que imperceptível, creio, passou a conversar com a imagem que, acreditem, respondia; ou não respondia, mas não vem ao caso. O que conta é o fato.