Crônica Encomendada
Crônica encomendada!
Acho que preciso conter meu exibicionismo.
Sem mais nem menos, numa ressaca de festa de casamento, alguém comentou sobre a minha pretensão de cronista. Não perdi oportunidade, confirmei. Lancei mão do smartphone e exibicionei. Aí, sei lá as razões, ela me pediu uma crônica, claro, não recusei.
Agora, agora não, desde então, estou às voltas com esta encrenca. O que escrever?
Preciso de um título para motivar. O primeiro que me ocorreu foi “crônica para uma desconhecida”.
Não deu certo. Apesar de não conhece-la, sei quem é o seu pai, sua mãe, seus tios, seus primos, dos quais gosto muito, inclusive estou na ressaca do casamento do seu primo, meu sobrinho indireto, a quem dediquei uma crônica, talvez a razão de tudo isto.
Ainda mais, sentei perto dela, ouvi a sua voz, os seus brados, num momento, tenho quase certeza absoluta de a ver rodopiar sobre uma cadeira, os braços erguidos, o dedo indicador voltado para o firmamento, como bailarina, apelando ao universo, movimento que despertou em mim o gesto de quase ir, contido na falta de precisão de socorre-la, mas deixando a indagação: o que terá apelado ao firmamento?
Por mais que a desconheça, não posso considera-la uma desconhecida!
Ai, no caminho para Capinópolis, me ocorreu que poderia ser “crônica para uma estranha”.
É, pode ser.
Estranho, entre tantas coisas, sugere o que é excêntrico, extravagante, misterioso, retraído, diferente.
Tá, a pessoa que me pediu a crônica pode ser excêntrica, extravagante, incomum, tudo bem, mas será que a transforma numa estranha?
O falar apressado, o apertar os olhos, o olhar sem olhar... sei lá...
A única coisa que não é estranho numa estranha, é que toda estranheza é meramente uma luta inglória contra o sofrimento!
Achei o título: “Crônica para uma estranha”.
Agora é esperar a musa para inspirar!
João dos Santos Leite
Psicólogo – CRP 04-2674