O JOVEM PASTOR

O JOVEM PASTOR

O rapaz não sabia o que fazer de sua vida. Interrompeu os estudos no início da adolescência. Aos vinte anos, ainda não pensava em se ocupar com nada. Apenas curtia o seu ócio crônico. Era o filho caçula. Tinha um casal de irmãos. A mãe o mimava muito. Parecia não se importar com o fato dele ser preguiçoso.

A quem puxou? Ninguém se arriscava citar alguém. Só a mãe, que de vez em quando dizia que o filho ocioso tinha puxado ao traste do pai. Os irmãos viviam estimulando-o a fazer alguma coisa. Se não queria estudar, que trabalhasse, que fosse útil, que desse um sentido proveitoso à sua vida. Em vão. O caçula nada queria fazer.

A mãe os teve, fruto de dois relacionamentos que não deram certo. Criou-os sem a presença dos pais, que apenas cooperavam com uma pensão mínima. Assim, ela teve que dar duro em vários empregos para criá-los. Se não fosse os dois filhos mais velhos, já formados, cada um com emprego garantido e ganhando relativamente bem, a mãe não saberia como sobreviver para sustentar a família de tudo a tudo, uma vez que, sempre indecisa no que queria fazer, ficava pouco tempo em cada emprego que arrumava. A verdade é que, ela não percebia, mas o filho caçula pode muito bem ter puxado um pouco a ela.

A mãe era evangélica. Se envolvia com algumas obrigações na igreja. Quando não se ocupava com algum emprego fixo, ou com alguma atividade autônoma que lhe rendesse algum dinheiro, gostava mesmo era de ficar em casa, fazendo o que quisesse e quando estivesse disposta a fazer alguma tarefa doméstica. Depois das decepções com os dois trastes, pais dos filhos dela, não quis mais refazer a sua vida amorosa com nenhum homem. Os que apareciam, vendo-a vistosa e graciosa, apesar dela estar na casa dos cinquenta, se derramavam em galanteios insistentes, mas ela, todo tempo temerosa e indecisa, sempre dava um jeito de ver algum defeito neles, e então, mais uma vez desistia da possibilidade de ter algum companheiro em sua vida.

Dos três filhos, apenas a moça ia com ela nos cultos. Se a mãe não queria mais casar, a filha ainda nova, bonita e solteira, parecia querer. Nesse caso, a presença nos cultos não era só para ouvir A Palavra de Deus, mas também para correr o olhar bem intencionado entre os irmãos de igreja mais jovens, verificando se algum lhe interessava. Decerto, se não for indecisa e exigente como a mãe, a filha não terá dificuldade em desposar um jovem rapaz evangélico de bons princípios morais.

Ocorreu que, para surpresa da mãe, quem quis casar primeiro foi o filho do meio. A casa da família era espaçosa. Além da área construída, tinha área livre na frente, na lateral e no fundo. O filho pediu e a mãe cedeu o terreno do fundo para que fosse construída a sua casa. O filho casou e a mãe ganhou uma nora e depois dois netos. A mãe, que agora era também avó, gostou da novidade na família. Afinal, o filho casou, mas não foi pra longe, continuou alí pertinho dela.

O tempo foi passando, sem haver nenhuma novidade na rotina do clã familiar. A mãe/avó continuava sendo dona-de-casa. Se ocupava um pouco com os netos. Cumpria as suas tarefas religiosas. A filha continuava solteira mas não perdia a esperança de um dia casar. De repente, sem que a mãe lhe chamasse, o filho caçula passou a ir com ela à igreja. A mãe estranhou mas não lhe disse nada. Gostou da iniciativa do filho. Se ele não fazia nada, agora, pelo menos, se interessou em fazer alguma coisa útil. E pensava: " foram as minhas preces, foram as preces do pastor e da pastora, foram as preces dos irmãos e irmãs de igreja. " Glória a Deus!

Não precisou nem pedir dinheiro à mãe pra comprar uma Bíblia. O pastor, entusiasmado por ganhar mais uma ovelha pro rebanho do Senhor, tão gentil, lhe presenteou uma. Com a boa e abençoada novidade, a mãe passou a ir mais à igreja, a está mais presente nas atividades, e o filho caçula, claro, não perdia a oportunidade de ir junto com ela. Em casa, ele, que tinha todo tempo do mundo, não desgrudava da Bíblia. Lia e debatia frequentemente com a mãe, acerca dos vários assuntos contidos nas Escrituras Sagradas.

Nos dias de culto, o outrora ocioso filho caçula, fazia questão de se destacar no púlpito. Tão eloquente, o fiel Obreiro da Palavra de Deus pregava com firmeza, com fé, com o Poder do Espírito Santo lhe abençoando, lhe ungindo e lhe iluminando o jovem espírito pregador. Em pouco tempo, já era admirado por todos da igreja que pertencia e por outras igrejas, que já o chamavam de O Jovem Pastor.

E a mãe fez questão de subir no púlpito para agradecer ao Senhor, por ter maravilhosamente transformado o seu filho caçula num Homem de Deus, que dali pra frente, tinha uma abençoada e honrosa missão a ser cumprida. Pregar a Palavra de Deus.

Após dois anos de intensa atividade evangélica, pois era requisitado para pregar em várias igrejas de sua cidade e de cidades circunvizinhas, o jovem pastor tomou uma decisão: Deus havia lhe revelado que deveria abrir a própria igreja em sua cidade natal. As condições para isso, deveria vir de doações espontâneas dos que estivessem comprometidos, sobretudo, com a causa sublime da própria transformação moral. Todos, sem distinção, poderiam frequentar a igreja. Uma nova forma de pregação, baseada no ecumenismo cristão iria ser implantada por ele, preparando quem quisesse evoluir pela regeneração moral do espírito.

E foi assim que, em poucos dias, as doações começaram a ocorrer. O prefeito da cidade doou o terreno. Um arquiteto se dispôs a elaborar e doar o projeto arquitetônico. O material de construção foi doado pelas casas comerciais. As casas de eletrodomésticos e de móveis se dispuseram a doar o que fosse preciso. As serrarias e carpintarias, da mesma forma. Engenheiros, mestres de obras, pedreiros, ajudantes e demais voluntários se uniram para cooperar e concretizar o projeto inovador do jovem pastor.

Um grande, porém, simples galpão foi construído. Em sua fachada, o nome da denominação religiosa: Igreja da Unificação Cristã, o Paraíso Celestial na Terra. No dia da inauguração, O Jovem Pastor recebeu pessoas de todas as classes sociais, de todos os credos, de todas as tendências espiritualistas, materialistas e filosóficas. E foi desse modo renovador que o jovem pastor começou a unir, fortalecer e consolidar o verdadeiro Reino de Deus na Terra, a partir de sua cidade natal.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 06/05/2017
Reeditado em 07/12/2020
Código do texto: T5991536
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