O CARRO NA FRENTE DOS BOIS
O hoje é mais um dia em nossa vida? E neste intervalo de ontem até este momento: você dormiu, descansou, acordou, se levantou, pensou em tudo o que faria, arregaçou as mangas e foi para cima. Foi correr atrás do que é seu! Por vezes você pode ter perdido a hora, dormido mais do que deveria. Ou então pode ter passado a noite em claro, curtindo um encontro com amigos; um encontro com a namorada ou mesmo ter passado bons momentos ao lado da família. Por outro lado há quantos dias estamos assim - no tempo automático, dormindo para trabalhar e acordando para trabalhar? É tão intenso que, vez em quando, esquecemos que somos de carne e osso. Da mesma forma com que a vida vai e vem, não raramente, também nos concebemos como se fôssemos máquinas. Essa visão em túnel sempre na busca de algo; sempre lutando pelo amanhã, em planejamento para o futuro; pensando em algo até então inexistente, ou mesmo contorcendo coisas que nem aconteceram e podem nem vir a acontecer. Segundo, Eleanor Roosevelt, diplomata e embaixadora dos Estados Unidos no século XX, “o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos”. Pode ser que estamos como dizem por aí - sentindo as dores antes do parto ou colocando o carro na frente dos bois, na especulação de ideias e conjecturas de atuações antes mesmo de que realmente ocorra.
Os homens, concomitantemente dizem não se identificarem com a rotina, contudo acabam por vivê-la, pois tudo vai e se transfigura mecânica e habitualmente; transpõem-se em algo palpável dia após dia. Isto porque a natureza humana é enigmática e, eventualmente, teme o novo. O próprio organismo se acautela perante os acontecimentos e busca algo mais natural, que seja afim para que não se encontre perdido ou alienado. Para cada momento ou situação há de haver o que seja comum, que não fuja totalmente ao controle, haja vista que se for assim, tudo pode permanecer inerte, instável, sem rumo e sem chão. A maioria das pessoas pode perscrutar o que há por vir de forma que venha uma a uma por vez, para que não haja embaraços e para que a força não se abale com a falta de exatidão. Sistematicamente não queremos muito rápido, mas desejamos que acabe depressa. Necessitamos compreender pouco a pouco, mas não sabemos esperar. E continuamos ansiosos até o último minuto anterior ao que está por vir. Como nos inspira o escritor americano, Mike Murdock, “o segredo do seu futuro está escondido na sua rotina diária”.
Do mesmo modo “enfiar os pés pelas mãos” pode ser muito mais frequente do que imaginamos. Constantemente utilizamos a mente para fantasiar ou reinventar coisas. Isso quer dizer que não ambicionamos tão diferente assim, mas forjamos um novo jeito de fazer o mesmo. Por assim dizer reinventamos a roda para poder sentir uma sensação inédita. Igualmente pensar algo singular e abrir a visão pode se tornar comum para que possamos inferir que existem outros recursos para facilitar a acessibilidade. Um belo dia saímos com o carro, porém transitamos por um caminho distinto para chegar ao serviço; experimentamos um novo sabor de sorvete ou compramos uma nova marca de biscoito para diferenciar os paladares; para então sentirmos qual é o mais vantajoso pelo preço ou pela marca. Ocasionalmente somos convidados a conhecer lugares excêntricos e outras diversões em novas viagens. Algo que nos faça emocionar e acelerar o coração; que nos impacte do jeito que ainda não fizemos antes, que nos faça reacender a nossa luz interna e nos sentir mais vivos e mais alegres. É fascinante como muitos de nós, mesmo sendo os mesmos por anos, com a mesma personalidade, morando na mesma casa, convivendo com os mesmos amigos, queremos algo novo em vida para contar ao outro; para aumentar o vocabulário, seja lendo um livro ou assistindo a um filme. Haverá sempre novas formas, tecnologias originais e habilidades únicas.
Além disso, como é bom acordar de manhã e sentir um cheiro de terra molhada, ouvir o galo cantar, o rádio tocar uma moda antiga! Poder sentir que a despeito de os dias parecerem se repetir, podemos viver novas sensações, podemos ser felizes todos os dias. A vida é uma infindável escolha! Podemos decidir sermos alegres ou sermos tristes! Nem tudo está ao nosso controle, todavia em grande parte de nossa lida é possível controlar e determinar se queremos ser insossos, sem brilho ou se aspiramos viver cada dia como se fosse o último. Como se tudo que perto estivesse, soubéssemos dar o devido valor, e saber que não é porque temos tudo isso: toda a natureza, todas as pessoas que conosco estão; não é porque temos até mais do que precisamos, que não compreendemos o verdadeiro sentido da existência. Não é preciso perder para dar valor na vitória, não é necessário se separar da pessoa amada para aprender que existia amor; não é essencial estar longe dos filhos para saber que ser pai ou ser mãe é uma das mais maravilhosas dádivas do mundo. É primordial estarmos presentes e conscientes em cada momento para que saibamos, como o compositor Gonzaguinha nos escreveu: “cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”. Saibamos que a vida é boa e sempre será! Ela é bonita, é bonita e é bonita!!!!