A Fé e o Arquétipo em Jung
A Fé e o Arquétipo em Jung
Por: MEDEIROS, Luciano Silva de
Professor EBTT de Sociologia IFBA
Diante do tema proposto, construir-se-á a mediação entre mente e fé, por meio da psicologia de C. G. Jung, autor que se fundamenta nas descobertas de Freud, na primeira metade do século XX. A fé e a mente são duas coisas que estão imbricadas em processos mentais complexos. O termo correto é psiquismo, ao invés de mente, segundo a teoria psicanalítica originária. Fé também é um termo que pode ser substituído por outro: transcendência.
Para o renomado psiquiatra suíço, o desejo da transcendência está ligado com o êxtase místico, que é uma forma da manifestação da libido, que não se limita somente ao aspecto sexual-genital. Jung vai mais além que Freud, que considerava as religiões, ou sistema catárticos e de sublimação místico, como formas patológicas coletivas, numa forma de surto psicótico coletivo.
Jung, muito pelo contrário, considerava os sistemas religiosos, os mitos, os arquétipos e símbolos arcaicos, como manifestações do inconsciente coletivo. A Humanidade possuía, desta maneira, um repertório inato de sonhos, de medos e de representações que seriam quase que involuntárias. Cada um de nós saberia ou não manejar este conteúdo, por meio dos sistemas de representação sociais.
Jung afirma que pacientes neuróticos acima dos 40 anos, de ambos os sexos, tinham melhoras consideráveis de sintomas de neuroses, quando conseguiam assimilar as estruturas de mitos e sistemas religiosos. A transcendência é uma espécie de manifestação do inconsciente coletivo. Pessoas de meia idade lidam mais com a morte que outras faixas etárias, necessitando de meios de sublimação que realizem a Libido mística. Logo, o princípio do prazer não estava somente ligado à sexualidade, mas também a estruturas arquetípicas que lembram muito os apriorismos de Kant.
Haveria um inconsciente coletivo em cada um de nós. Seria uma memória coletiva do grupo. Os símbolos seriam manifestações destes arquétipos. Os mitos seriam os mediadores do conteúdo energético libidinal do inconsciente coletivo e o ego, que é a consciência. O conteúdo de religiões, literatura, mitos etc, todos eles, socialmente, fazem a catarse das necessidades de transcendência do psiquismo.
Freud erra, segundo Jung, ao considerar a religião uma mera crendice, pois o arquétipo Pai, que está na ideia de Deus, é um ponto muito importante de organização do aparelho psíquico. Todos os símbolos são mais profundos do que aparentam. Por trás do crucifixo, das mandalas, da estrela de Davi, Jung tenta decifrar antropologicamente o que marca o sistema de referências do inconsciente, que seria a porção mais natural do psiquismo. Uma porção livre e essencial para chegarmos ao que realmente somos. E o que realmente somos? Somos dependentes de um sistema de representações genuinamente humano, que Kant já havia chamado de a priori.
Dessa feita, fé é um sentimento humano que independentemente de levarmos ou não a sério, por meio da dúvida cartesiana, sempre será uma necessidade de catarse e êxtase, muito próximo ao orgasmo que Freud tanto enalteceu.