LAURINHA NINFETA

“Seu” Joaquim e Dona Maria davam duro na vida pra sustentar uma penca de cinco filhos, entre eles a Laurinha, na flor dos seus dezessete anos, o xodó do velho. Ele trabalhava na usina de açúcar de Rio Claro/SP e a mulher cuidava da casa e da prole.

Certo dia a Laurinha amanheceu indisposta, não quis ir pra escola, mal tomou seu café e correu pro banheiro para vomitar. Sua mãe ficou apreensiva, trancou-se com ela no quartinho e lhe fez algumas perguntas, mas a donzela era esquiva.

Dona Maria então foi à farmácia e voltou de lá com um teste de gravidez e fez o procedimento na filha. O resultado deu positivo, a ninfeta estava gravidíssima, para o espanto da sua mãe, coitada.

“- Ah, minha filha, pelo amor de Deus! Onde você foi arranjar isso? Não bastasse os problemas que eu e o Joaquim temos e agora isso? Ele vai lhe matar!...”

Na hora do almoço “Seu” Joaquim chega varado de fome, mas a mulher o chama no quintal pra conversar e solta a novidade. O velho gira nos calcanhares, volta ao interior da casa e invade o quarto de Laurinha, destemperado:-

“- Laurinha, que diabo é isso? Quem é o pai dessa criança? Eu quero conhecer pra matar esse desinfeliz. Me diga logo quem é!”...

“- Calma, pai. O senhor vai conhecer. Vou telefonar pra ele, calma!...” – dito e feito, puxou o celular da bolsinha (hoje toda ninfeta tem celular) e fez uma ligação. A seguir, falou ao angustiado “Seu” Joaquim:-

“- Pai, ele disse que vai passar aqui em casa logo à tardinha, lá pelas dezesseis horas, pode ser? ...”

“- Claro que pode! Eu nem vou mais trabalhar depois dessa, Maria!...” – e trancou-se no seu quarto.

Na hora aprazada encosta defronte à humilde residência uma “Ferrari Testarossa” vermelha, beleza de máquina, desce um coroa louro, elegantérrimo, vestido de branco, cheio dos anéis, cordão de ouro trabalhado no pescoço, queimado de praia e, educadamente, se dirige ao sogrão:-

“- “Seu” Joaquim, vou direto ao ponto. Casar eu não posso, pois já tenho família constituída. Mas assumo toda a responsabilidade e mais:- se for menina, passo uma fazenda de gado em Goiás pro seu nome, abro uma poupança de US$1.000.000,00 pra Laurinha e pago os estudos da criança até a universidade. Se for um menino, passo-lhe a escritura de terras cultivadas em Mato Grosso, abro uma poupança de US$2.000.000,00 e também garanto seus estudos até a universidade. Agora, se for um aborto ...” - antes que ele completasse a frase, “Seu” Joaquim aproximou-se dele, botou-lhe a mão no ombro como se fôssemos muito íntimos e sapecou:- “- Se for um aborto, o senhor come a Laurinha de novo, doutor!...”

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B.Hte., 04/05/17

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 04/05/2017
Reeditado em 05/05/2017
Código do texto: T5989243
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