Reminiscências
Reminiscências...
Em 1969 eu trabalhava na empresa SA Mercantil Tertuliano Fernandes, em Mossoró, mas a SANTEF estava encerrando suas atividades. Pensei seriamente o que faria da vida com duas filhas para criar. Vi que os bancários do banco do Brasil eram muito respeitados, pelo status e pelo alto ordenado que ganhavam naquela época. Pensei em me preparar para um concurso, ao tomar conhecimento de um edital publicado na imprensa. Gilbamar, meu cunhado, tomou logo a decisão de também se preparar. Comprei apostilhas e estudamos juntos. Dona Terezinha bordou uns panos de prato e saiu vendendo, para ajudar no cursinho de seu filho. No dia da prova, tomei a decisão de não ir mais, naquele momento, para o banco do Brasil. Guardei o sonho e comecei a gerenciar o projeto de uma padaria, talvez ainda avivado pelo sucesso da grande padaria do meu irmão Edmilson em Almino Afonso. Depois da copa do mundo de 1970, resolvi que poderia construir a padaria ali mesmo no muro de nossa casa, no Walfredo Gurgel.
Foi uma árdua luta até o dia da inauguração, em outubro de 1970, quando já havia colocado o nome de padaria Karla. Convidei Daozinho, o padeiro de Edmilson, que já residia em Mossoro, com sua pródiga padaria. Gilbamar foi aprovado no concurso. Quando ouvimos pela rádio rural seu nome na lista dos aprovados, houve muita alegria e muita festa na família. Sua convocação foi imediata.
Entretanto já estávamos com nossa padaria fazendo o pão que há milênios alimenta o homem.
Nubia era a dona do cofre e investimos tudo na educação da família. Foram 31 anos neste projeto maravilhoso. Em novembro de 2001, viemos para Fortaleza, mas nestes 31 anos, nossa padaria nunca fechou um dia sequer. O pão foi sempre muito abençoado, desde os tempos de Jesus. No ano da graça de 2007, aquele sonho adormecido de 1969 começava a despertar, ao saber que o Banco do Brasil ia realizar mais um concurso. Todavia eu precisava concluir meu ensino médio, inacabado desde 1968. Encontrei o colégio CEJA, no centro da cidade e voltei a estudar. Foram muitas viagens lá, até conseguir, em seis meses, o tão almejado diploma, com notas acima de nove em todas as materias. Naquele momento, que o sonho havia despertado, foquei na minha aprovação e iniciei uma jornada diária de onze horas de estudo durante três meses. Assumi a condição de concurseiro e colhi bons resultados. Fiz, além do concurso do Banco do Brasil, na Caixa Econômica e no Tribunal de Justiça. Fui aprovado nos três. Aguardei convocação. Em 2008, iniciei uma experiência no marketing multi nível de uma grande empresa que produz excelentes produtos à base de aloe vera. Já no ano seguinte, fui premiado com uma viagem internacional a Acapulco, no México. Depois de mais de três anos de esperar por alguma das convocações, em janeiro de 2011, o Banco do Brasil saiu na frente e me convocou e já no mês seguinte eu tomei posse. Meu cunhado está aposentado, eu, porém, continuo aos setenta anos, neste 2017, fazendo o que mais dignifica o homem, trabalhando. É este exemplo que quero deixar para a posteridade.