Expansão

Limpe a casa. Vista uma roupa velha. Pague a conta da água. Pague a conta da luz. Troque o gás. Mande lavar o cachorro. Pague o telefone. Espane tudo. Troque a roupa de cama. Confira o bilhete da sorte. Leia o signo. Cante. Prepare a comida. Engraxe os sapatos. Tome remédio. Vá ao dentista. Compre uma estética. Confira o troco. Vá ao teatro.

Grande mulher!

- Olha, ela não é sempre assim...

Recordou-lhe o amigo a frase imortal da sogra num ímpeto. Era verdade. A casa estava uma bagunça. Andava com roupa velha. A conta da água vencida. A luz cortada. O gás vazio. O telefone calado. O pó acumulado. O uísque zerado.

- Antigamente não tinha isso não. Problemas como os meus.

Confessou com visível desgosto ao amigo do peito, Miranda.

- Você não tem realmente “problemas”, apenas um único, grande, está casado. Tire férias!

- Levar uma criatura improdutiva para o mar mudaria os fatos?

Falar com ela seria a coisa mais difícil do mundo. Sempre ligada na televisão. Talvez fosse o mesmo que apagar fogo com gasolina. Espiava pela janela da sala e ela estava sensual, comendo jaca para passar a tosse.

- Tudo depende de uma boa ordem de comando, disse o Miranda.

O amigo estava arrependido por ele.

- Você contou sobre o telefonema naquela tarde azul de setembro. Ela se derreteu diante do convite: Querida, vamos ao chope?

Respondeu:

- Claro! Depois vamos para a cama!

Direta e sem pudores. Era o “golpe da fantasia”. Queria o leito, mas era o leito incerto do rio. Veio a seguir a estiagem prolongada.

Ela lhe dizia:

- Corte os cabelos. Arrume os livros. Esqueça o botequim, ordinário. Compre filé. Traga dinheiro para casa. Vá ao cinema. Corte as unhas.

Não havia mais lugar para pena dos outros só de si mesmo. Já devia saber. O véu e a grinalda foram economizados no cartório, era o sinal. Um sinal do qual não pode compreender o significado. Naquele dia juvenil (queria ter nascido velho) estava disposto a morrer ou a vencer. Casou sentindo que passaria para os arraiais da vitória ao seu lado. Precisava merecê-la, a vida era sua. A parte boa nunca contava porque ninguém desabafa uma falsa alegria. Na rua o crepúsculo sugeria uma noite quente.

Desabafou tudo no Miranda:

- Olha Miranda, você se mete demais na vida alheia.