“Não posso evitar o fato de que meus quadros não sejam vendáveis. Mas virá
o tempo em que as pessoas verão que eles valem mais que o preço da tinta”.
“Eu não quero pintar quadros, eu quero pintar a vida.”
Vicent Van Gogh - pintor holandês (1853-1890)
o tempo em que as pessoas verão que eles valem mais que o preço da tinta”.
“Eu não quero pintar quadros, eu quero pintar a vida.”
Vicent Van Gogh - pintor holandês (1853-1890)
É PRECISO LIBERTAR OS CORVOS...
Trigal com Corvos, foi o último quadro pintado por Vicent Van Gogh (1853-1890) num período que o artista passava por sérios problemas emocionais. Na obra, o pintor utilizou tinta a óleo sobre tela e conseguiu destacar apenas os elementos essenciais da paisagem: os corvos, os pés de trigo, um céu escuro e ameaçador e os caminhos de terra passando pelo trigal, procurando fazer uma representação turbulenta da realidade, com uma intensa mistura de cores fortes e pinceladas nítidas, que trabalham bastante com o contraste e a indefinição das formas. As pinceladas são bem visíveis e as cores pouco se misturam.
Quando finalizou o quadro, Van Gogh sentiu que era preciso libertar os corvos. Era domingo. Em Auvers, a seara de trigo está linda, dourada, e o céu completamente azul. No meio do trigal ouve-se o som de um tiro. Um tiro certeiro no peito “para o bem de todos”, segundo ele. Quis o destino que seu último e trágico suspiro fosse dado num lindo campo de trigo amarelo, a sua cor preferida... Não um trigal que brilhava sob um céu de ameaçadora tempestade, como na tela, mas sob um céu de um intenso azul.
Trigal com Corvos foi motivo de uma das cenas mais grandiosas do cinema mundial, em “Sonhos” de Akira Kurosawa. Imagem de uma intensidade tamanha, os corvos voando sobre o trigal se assemelhando a negras entidades angelicais maculando a luz do paraíso. "Forças maléficas", como dizia Antonin Artaud, dominavam também a alma de Van Gogh.
Alguns temas caros à Filosofia Existencial serão discutidos a partir do que é mostrado no quadro e no filme. Artaud, em sua tese, disse que Van Gogh não se suicidou, foi suicidado pela sociedade. Será que o gênio ou artista incompreendido não será vítima pelo simples fato de não se fazer entender? Teria a sociedade a responsabilidade e obrigação moral de salvar um gênio de si mesmo?
Van Gogh vendeu apenas uma obra e deixou 879 pinturas e 1766 desenhos e gravuras. Ao lado de Monet, foi o mais autêntico de todos os impressionistas. Deixou-nos tesouros inestimáveis. Foi o único, absolutamente o único que ao representar a natureza, dela fez surgir forças giratórias como se libertasse o desenho da forma em representações e movimentos arrancados diretamente do seu coração.
Indizível é o que sinto quando observo o conjunto da obra vangoghiana. Vejo poesia, respiro poesia, sinto poesia. Uma vez vista, admirada, compreendida, a obra de Van Gogh irá acompanhar-nos pela vida, construindo em nós um universo onde o belo caminha lado a lado com a experiência da poesia.
Em 2008 tive a grata oportunidade de visitar o vilarejo de Auvers-sur-Oise, na França, onde o pintor passou os últimos anos de sua vida e pude observar paisagens que são exatamente o que ele retratou em suas telas: a simplicidade campestre, pura, colorida e pitoresca.
Pintar também é uma forma de fazer poesia e Van Gogh foi, é, será sempre o poeta da cor. Ele como ninguém pintou a luz que vem de dentro em cores que representavam os seus sentimentos. Dizem os críticos que o amarelo tinha a sua preferência. Predomina o amarelo na maioria de suas grandes obras. Amarelo é o trigal que pintou, amarelo sobre o qual pairam os corvos pretos em revoada. Preto é a ausência da cor, ausência da luz e da vida.
Observo uma vez mais a tela e sinto que os corvos estão aprisionados entre o céu escuro e ameaçador e o trigal dourado e não e possivel fugir. Se continuarem voando poderão morrer de cansaço ou ser comprimidos, esmagados, contra o solo pelo céu ameaçador. O pintor poeta desejou libertá-los. Ao libertar os corvos, o artista libertou a si mesmo. E, quem sabe, talvez ainda tenha podido admirar a sua majestosa revoada sobre o trigal dourado e experimentado aquela indizível sensação de sonho e libertação de que os poetas falam, recompensa de uma vida de dor, sofrimento e incompreensão.
Van Gogh
pintou a luz
que vem de dentro
em cores que
representam
sentimentos.
Ele,
como nenhum outro,
pintou o vento,
deu-lhe cor,
forma,
turbulência
...m o v i m e n t o...
Ana Flor do Lácio
pintou a luz
que vem de dentro
em cores que
representam
sentimentos.
Ele,
como nenhum outro,
pintou o vento,
deu-lhe cor,
forma,
turbulência
...m o v i m e n t o...
Ana Flor do Lácio