Marília
I
Numa fração de segundo, o branco dos olhos fez-se vermelho tal qual seus carnudos lábios ruge, era de se esperar que logo que me vera desabaria diante da minha presença. Não, não aconteceu, meu coração apertava e um sorriso amarelo via-se em minha face, de quem queria saber o motivo do pranto e não podia.
Seu olhar foi aos poucos se afastando da minha presença e quando atravessou a porta minha feição de iluminada passou a breu.
II
Demorou muito a chegar pela manhã, quis que seus olhos me buscassem no fundo da sala, mas só olhava pra frente, inegável era a presença angelical, a todos tratava da mesma forma e parte do todo sempre a machucara. É sensível como nenhuma outra e pela bondade sujeita-se a infortúnios.
Quem? Quem de tão mau coração e tão amarga alma é capaz de te entristecer? Deveria sofrer tortura por fazer mal a tão bondoso e inigualável ser. Sei, nunca vou poder a ter, mas só de estar em sua presença me contento, porque és digna de toda pétala, toda flor e cada buquê que há nessas terras.
III
Hoje não vi chegar logo cedo como de costume. Que falta eu senti de seus olhos brilhantes que fazem meu nascer do sol, a manhã passou, bem lentamente, torturando-me. Era uma e quinze quando os ares se fizeram mais doces, as cores vibraram mais forte e se ouvia a doçura de uma voz que se fazia constante nem grave nem aguda.
Combinação perfeita essa: o rosado de tuas bochechas e o breu de seus olhos. Olhos esses que me hipnotizam, me prendem. Fato é estou presa e teu encanto enfraquece-me, ludibria-me, passa a ser meu único momento de vida.