CENA ULTRAJANTE
Numa rua do bairro onde moro, aliás, como em quase todos de uma grande cidade, há sempre um local mais conhecido como “a boca”, ou “biqueira”, onde as pessoas viciadas se aproximam para comprar os vários tipos de droga. Lamentavelmente, este tipo de comércio ilícito é movimentado a qualquer hora do dia ou da noite, faça chuva ou faça sol e, há ocasiões em que nestes locais há até fila, por incrível que pareça.
Na tal “biqueira” desta rua do bairro onde moro é um local camuflado, onde um moleque fica só com a cabeça sobre o muro do tal prédio e logo na parte de baixo fica outro comparsa para receber o dinheiro e, concomitantemente, passar o produto proibido por um cano, onde há o contato imediato com o freguês, seja ele quem for, por exemplo, adulto, jovem, mulher, não importa a idade. E assim sucessivamente. De segunda a segunda o movimento nestas “bocas” é intermitente. É simplesmente impressionante o faturamento deste tipo de comércio ilícito.
Fiz este preâmbulo todo só com o objetivo de citar uma cena deprimente, ultrajante que eu presenciei certo dia quando passava próximo de uma destas “biqueiras”. Uma pessoa estacionou um carro do outro lado desta rua e sem motivo óbvio mandou uma criança, com idade aproximada de apenas seis anos, atravessar a rua e ir até ao local, onde colocou o bracinho dentro daquele cano, segurando na mão o dinheiro já trocado e, ao mesmo tempo, recebeu a respectiva droga, que alguém da sua família solicitou logo que parou o carro, gritando ao moleque que fica sobre o muro. E tal transação é sempre feita de maneira muito rápida e precisa. Não há pechincha de nada e muito menos reclamações.
Agora, pensando bem, neste caso, eu só lamentei pelo futuro daquela criança que serviu de recado, comprando droga como se fosse chiclete ou balas. Sinal dos tempos. Bastante lamentável, literalmente, por sinal.