08/08/2007 11h22
Direito "à Liberdade de expressão"(texto completo, revisado de digitação)

Clevane Pessoa de Araujo Lopes
A liberdade e de expressão é, supostamente, uma conquista brasileira e de seus intelectuais. Poetas, artistas, pós Ditadura.Mas ainda há quem não a leve em conta.
Que seria dos livres pensadores e criadores, sem ela? De que forma os argutos chargistas poderiam manifestar as tendências, expressar as queixas , sem poder fazer a apologia do ridículo, não criado por eles, seus meros intérpretes, mas protagonizado por figurões e situ/ações nacionais?

A Censura, vista a posteriori, sempre tem essa conotação ridículo, na perplexidade da interpretação de seus atos.
Nos anos 60, trabalhei em jornal, na cidade de Juiz de Fora e sofri toda espécie de pressões sem ser confontada de frente,diretamente, ou presa, torturada...Tentava manter um padrão de conduta e sanidade, senão o jornal onde trabalhava, poderia ser fechado.Mas aconteciam coisas estranhas:por exemplo, receber reclamação do Barão Elias Domit, presidente do Instituto de Cultura Americana,avisando que eu seria susbstituída por fulana de tal( pois cada país representava um outro, e enquanto Delegada Ad Honoren do ICA pela filial do Uruguai,eu deveria manter intercâmbio, assiduidade, etc -) se continuasse a mandar correspondência aberta, razurada, recortes inutilizados,rasgados.Nos meus guardados, tenho ainda algumas dessas curiosas queixas.

Sem Internet, nos Anos 60/70, eu enviava tudo via Correios.Muita coisa se perdia, mas jamais deixei de cumprir meu papel de divugadora (Lázaro Barreto, meu amigo querido, de Divinópolis, lembra-me que sempre fiz o que agora faço, pela Internet).Entrevistava, divulgava, mas houve situações  que beiravam a tragicomicidade: fui entrevistar  Poerner e Cony , que haviam chegado para lançar livros (penso que o de Carlos Heitor era seu "Tijolo de Segurança '.À porta, dezenas de soldados, com metralhadoras, nos impediram de entrar.Mas sabíamos o hotel onde estavam e para lá nos dirigimos.No outro dia, as entrevistas eram estampadas.Eu penso que não me expunha por "coragem\', porém pela necessidade de cumprimento do dever, e algumas "molecagens\' típicas da mocinha que eu era:escrevia a matéria á mão, pois detestava catilografia´- e ia entregá-la diretamente na gráfica, a Gazeta Comercial ainda era feita com linotipos. Ainda avisava que estava com a matéria atrasada e obtinha licença diretamente do diretor, Theo Sobrinho, para levar o que escrevera;assim eu escapava de sua leitura prévia. O jornalista Paulo Lenz,diretor de redação, somente me incentivava e se divertia com minhas estratégias.Mais tarde, Gilson Guilhon Loures fazia o mesmo, davam-me cobertura e acendiam a brasa da liberdade..

Quando Juscelino Kubitscheck retornou do exílio, o DA da UFJF ,de Engenharia convidou-o para falar.À porta, tomaram a máquina do fotógrafo Albert Bauer, grande amigo de minha família e que me acompanhava nas reportagens,pois assim eu garantia que poderia ter fotos no dia seguinte.A máquina era sua fonte de renda.Depois , devolveram-ma, mas o DOPS então, liberou uma foto de JK, dos anos 50 (51).Por que?A  História teria de ser atemporal?

Peças de teatro eram invadidas, em especial no Rio e atores levados para serem interrogados.Qualquer palavra suspeita, muitas vezes por plena ignorância dos censores, era ou sucintamente cortada, ou passível de ser explicada ideologicamente, muitas vezes de forma cansativa e inexplicável.Lembro que a editora Civilização Brasileira publicava seus cadernos, ousando mostrar as fotos da manifestações da classe artística, no Rio.Muita gente corajosa.Muita gente espontânea.Muita gente inocente.Terroristas caçados, mas enquanto isso, a caça a bruxas e bruxos encheu de chumbo o cenário nacional.Anos plúmbeos.E jamais se criou tanto, muita poesia , muita mudança, entre os autores e atores, muita cor/agem: "agem em nome da LIBERDADE DE SER", escrevi num poemeto.
Por isso, irrita-me, surpreende-me-me,que depois de nossas conquistas à liberdade de pensamento e ação, ainda haja, neste País onde ainda se pode escutar choros de mães, pais, esposos e filhos, amigos e alunos, professores ,onde alguns ossos ainda não foram encontrados e sequer levados pelas Walkírias ao Valhalha, em sua cavalgada , que existam uns espíritos tão pequenos que proíbam aos livres pensadores e criadores a expressão do verbo , da forma, do humor, da vivência.Que os cacem para proibir.Que impliquem , a troco de nada, pelo prazer sádico de colocar mordaças morais e algemar  braços para os devidos abraços a isto ou aquilo ou a afiliações,amarrar passos, aparar asas aos poetas e aos artistas.
Retrógrados, esses caçadores , predadores,querem negar às pessoas, o verdadeiro prazer , o verdadeiro gozo:A LIBERDADE DE SER< FAZER<ESTAR< DIZER< IR E VIR ...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte, 080807



Para nossa surpresa,apesar de trabalhar há anos ali, quando fomos tirar nossas carteiras, o Sr.Theó nos registrou como  meros "colaboradores. À essa altura, eu era noiva ou já casada com ex-preso político.Ele era o redator-  chefe de "A Tarde",  a edição vespertina da Gazeta comercial, Messias da Rocha e teve de  aceitar o artifício usado pelo diretor para nos manter ali)  .Bem ,eu  "colaborava" muito: assinava uma coluna diária, escrevia sobre turismo quando o Heli Martilnelli não podia, ia a portas de delegacias, fazia todas as reportagens que mandavam,com políticos e importantes figurões, mas na página "Gente , Letras e Artes" , empoderávamos os autores, poetas, trovadores,artistas,não apenas de Juiz de Fora e Minas Gerais, como do Brasil inteiro e de outros países.
A Poesia, por exemplo, universal linguagem (assim qual a Música, as Artes Plásticas),deve sempre estar acima de preconceitos, raça, cor, guerras e, sobretudo, estar livre de censuras.
Todos nós, cidadãos, temos direito de nos expressarmos abertamente.Sem boicotes, sem repreensões.
Muitos parecem esquecer que ontem, quase, na história recente da pretensa e vexatória e absurda ditadura militar brasileira,pessoas eram presas e torturadas, assassinadas ou mortas em "acidentes' de "interrogatórios", apenas por expressar e criar, do lógico e racional ao imaginário e à criatividade.Ou por não conciordar com procedimentos dos poderes vigentes.
Lembro do Guedes, que escrevia sobre astronomia, então noivo de Marta Sirimarco, atriz do Grupo Divulgação, ambos colunistas da Gazeta, quando foi preso, e do desesperop e lealdade  da noiva.

Lembro do Karl, que um dia , no ônibus, me disse tão baixo que "não sei quem,estava sob tortura, que passei a noite rezando por alguém que não sabia quem.Mesmo assim , apertei o braço dele em solidariedade, sem ousar perguntar sobre que pessoa falava.Eu dizia que Karl vivia no gerúndio;sempre indo e vindo.Para não comprometer os amigos, não dizia sua direção.

José Luiz Dutra Ribeiro e eu, mantínhamos intermináveis conversas sobre as perplexidades, as possibilidades, as impossibilidades de ser m fazer, entender...
A mulher que entregou colegas aos militares, datilografando com carbono embaixo ,documentos "comprometedores'e passando-lhes, vaidosa, as cópias , depois chorava lágrimas de sangue, porque um sobrinho querido desapareceu.Antes, considerava-se uma nacionalista, agora não sabia mais o que era.Traidos e desleal,  uivariam , lobos juntos, os lobos nas noites de lua-cheia...
A mocinha suicidou-se depois de conhecer o bicho-homem vestido de verde..No sentido bíblico...

Quando Wilmar Silva, em meu evento Poesia é ouro , neste março de 2007, leu meu poema "Trinta anos sem Wlado"(*), pessoas  ficaram muito emocionada.Mesmo os jovenzinhos, que não viveram a triste época. Mas uma das jornalistas presentes chorou mais que todos os demais...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes




Se quiserem saber mais, alguns capítulos de meu livro de rememórias, "Nas Velas do Tempo" (Uma homennagem a um versos de canção da compositora Leni Tristão, de Juiz de Fora, que fez muito sucesso à época), estão no e-book abaixo:


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Fonte:Pesquisa Google

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Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 08/08/2007 às 11h22

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