Um imenso Portugal

Com certeza, em momentos de desalento geral, sempre ouvimos desabafos sem nenhum sentido sobre nossa maneira de ser, insinuando que somos um povo indolente, fraco, festivo, sem iniciativa, uns macunaímas porque descendemos, pasmem, de negros e dos índios. Quem nunca ouviu essa besteira? Mas há uma verdade, todos nós somos negros e índios. Eu me orgulho disso.

No entanto, mesmo avesso ao estudo e leitura de teses e às masturbações sociológicas que tentam explicar nossa identidade, sou mobral nisso corro léguas desse tipo de interpretação de raça,eu sempre tive uma quedinha a acredtar que todos nós, brasileiros, temos além da herança culturaldos negros e dos índios, tamaabém a herança lusitana.E essa quedinhase tornouainda mais forte quando ouvi a primeira veza musica de Chico e Rui Guerra, "Fado Tropical", e sempre que ouçou-a novamente, acho que pelo menos uma vez todo mês, eu acredito que realmente temos também muito dos portugueses. Adoro toda a música, mas a parte que me impressionou e que para mim valepor um tratado racial é a parte declamada. Vou transcrevê-la:

"Sabe no fundo eu sou mesmo um sentimental.Todos nos herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (alémda sifilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar. o meu coração fecha os olhos esinceramente chora...

"Meu coração tem sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto. De tal maneira que, depois de feito, desencontrado, eu mesmo contesto.

"Se trago as mãos distantesdo meu peito é que há distância entre intenção e gesto, e se meu coraçãonas mãos estreito, meassombra a impressão de incesto.

""Quando me encontro no calor da luta ostento a a guda empunhadura à proa. Mas meupeito se desabotoa.

"E se asentença se anuncia bruta,maiis que depressa a mao cega executa, pois que senão ocoração perdoa".

Somos, quem sabe, um imenso Portugal. Pardón, se fui um pouco politicamente incorreto.A culpa é do Chico Buarque e do Rui Guerra. O resto é samba. Inté.