O SER ATOR (Fernando Matos)

Na ousadia de tentar explicar o resultado aonde ainda também quero chegar me arrisco sem medo de errar a definir o ser que se equilibra em meu corpo por completo e, mesmo simples, possui um interior complexo, pois é a materialização da arte que recebeu um sopro de vida e foi batizado de ator.

Ator é sem pudor. Encara de peito aberto a alegria e a dor.

Sente, expressa, passa, é crença sem raça, sem cor, vai de Hitler a Ghandi, do ódio ao amor.

Interpreta, assume, emociona e transmite a mensagem, veicula e abre as portas de um outro mundo para o mundo.

É suado, escravo do vício prazeroso, intenso e gostoso.

Vive vidas, chora choros e não se ilude com os aplausos. Faz deste o seu salário!

Estuda, analisa, pesquisa e encontra dentro de si a força que precisa.

Tem o dom de atuar, conhecer e emocionar.

Vive e convive com a melancolia do personagem e se enxerga e se entrega e se empresta e pisa no altar do palco pronto para a guerra, armado de sua confiança.

Passa, repassa, ensaia, marca, desaparece, desperta os desejos, e vontades, imagina e volta no tempo, pára o tempo, brinca no tempo, reaparece de repente e fica para sempre na memória de quem o viu.

Pronuncia palavras que não são suas, mas de tão bem ditas confundem-se com seu eu superior. Existe e se reinventa, participa e se apresenta.

Admira e é admirado, nasce grande, porém adormecido, cresce mais e diminui conforme a necessidade, canta e encanta.

Apresenta e à vontade é versátil e não só amadurece, estica-se, alcança, vira avô e criança e sereno volta a ser quem era, o personagem principal de sua própria vida sofrida, vivida, passada, única, real e criada com a missão de simplesmente ser o que quiser, quando e onde bem entender, seguida pela direção de um refletor que escurece os olhos e ilumina o interior da platéia que prestigia o ator, maior exemplo de opostos atraindo as atenções regadas à inspiração e transpiração afloradas, pulsantes, vivas à sua frente de braços e cortinas abertas para o que der e vier, do lindo ao ridículo esse é o papel e o texto vivenciado, o improviso que costura e embeleza o drama e passa o conceito, repassa a estória, entra para a história.

Ninguém é mais do que ninguém, mas o privilégio especial de poder ser todos, individualmente e absolutamente como ninguém pertence a um único ser: o ser ator.

Fernando Matos
Enviado por Phellipe Marques em 24/04/2017
Reeditado em 19/08/2017
Código do texto: T5980232
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