SITUAÇÕES DA VIDA - CHURRASCO DE DOMINGO DE PÁSCOA
Situações da Vida
O Churrasco de Domingo de Páscoa
Os tempos são outros, realmente. Domingo de Páscoa foi comemorado lá em casa com um churrasco com a família.
Algumas ausências sentidas como da filha que vive em São Caetano, cidade do ABC paulista e estava com o namorado passando o feriadão em Cunha, pequeno município de São Paulo fronteiriço ao sul de Minas.
Ausência da filha, presença da netinha. Casa cheia! Avós, tias, cunhados, sobrinhos, primos.
Todo mundo falando alto. Música no spotify ao fundo. Carne e chocolate numa tarde ensolarada com temperatura agradável de Outono.
É gostoso receber familiares em casa, ainda mais quando não há briga, discussão entre irmãos ou primos. Qual é a família que não possui um ente querido que quando em eventos assim, procura chamar a atenção sempre de forma negativa; seja relatando alguma doença recente, chorando suas mágoas num momento de pura alegria ou criando situações de contenda familiar ao falar ‘algumas verdades’.
O imbróglio pode ser direcionado a uma pessoa, mas acaba respingando em todos. Até no caseiro, se houver um!
A festa pode até não acabar, mas fica menor na alegria!
Mas, desta vez, não houve estraga prazeres, todo mundo se divertiu, fofocou, brincou, falou alto quase nenhuma verdade e algumas pequenas mentiras ampliadas para dar sabor à estória.
Inevitavelmente, situações recentes envolvendo celebridades foram tratadas. Foi o caso do assédio sexual perpetrado pelo ator José Mayer a uma figurinista novata de nome Suesllen Tonani trazido à tona pelas representantes do sexo ‘frágil’, maioria no churrasco. Do lado do sexo ‘forte’ apenas varões já um tanto ébrios por várias latinhas de Budweiser, antártica, skol e doses generosas de uma nova cachaça deliciosa presenteada ao anfitrião por seu filho.
As mulheres faziam um discurso ideológico, feminista, agressivo. Os moçoilos tentavam contra-argumentar com resquícios de uma sobriedade ainda não maculada pela ação etílica, mas que já avançava com intrepidez e, logo, logo os prostrariam sob o fardo inconsequente da embriaguez explícita sem culpa.
Seriedade de um lado, brincadeiras de outro. Ante a carga pesada das mulheres quanto à culpa total do ator, os homens procuravam dissimular a derrota com piadinhas infames, como o contraponto ao slogan criado pelas atrizes e funcionárias globais: “Mexeu com uma, mexeu com todas nós!” com “Passou a mão em uma, passou geral!” Terrível!
Mas, o suficiente para deixá-las mais irascíveis para o nosso deleite machista.
Estropiados pelo ataque massivo imposto pelas mulheres de plantão naquele fim de churrasco já na boca da noite enquanto uma costela bovina ia sendo esquecida e torrada penosamente pelo último pedaço de lenha na churrasqueira, um de nós ainda tentou recorrer defendendo-se de que não poderia opinar por não conhecer os fatos ocorridos realmente. Não queria fazer um julgamento que pudesse ser injusto, justificara-se.
Ponderei com ele de que não estávamos ali julgando ninguém, apenas comentando sobre um fato ocorrido e que teve ampla divulgação pela mídia. Não haveria injustiças ou sentenças proferidas. Éramos pessoas comuns, anônimas, felizes pela oportunidade de estarmos mais uma vez juntos e conversando, brincando, cujos dizeres ou menções daquele momento, se extinguiriam tão logo mudássemos nossa atenção para outro assunto.
A vida também é assim! Para que ser levada muito pela lógica, pela assertividade, ainda mais num Brasil cada vez mais triste e cinza como este em que estamos sobrevivendo com o pão nosso de cada dia?
Estávamos de shorts e camisetas, não com togas pretas e investidos da tarefa de sermos decisores sobre os destinos de outros.
Antigamente, éramos milhões de técnicos de futebol quando o assunto era a seleção brasileira. Hoje, parece que trocamos o agasalho de técnico de futebol pela toga sisuda de juiz analisando, inquirindo e julgando o comportamento e atitude de tantos políticos, empresários e outras autoridades públicas, esquecendo-nos de avaliar as próprias atitudes rotineiras, quando estacionamos nossos carros em filas duplas ou triplas na porta da escola a espera do filho, quando falamos ao celular enquanto dirigimos não nos importando com os outros motoristas e colocando em risco não somente a nossa vida, mas principalmente a deles que nada têm a ver com a nossa irresponsabilidade, quando caminhamos na ciclovia, às vezes até em duplas ou trios, tendo ao lado um calçadão destinado exatamente para isso, quando atiramos lixo pela janela do carro nas ruas e passeios públicos ou quando ‘passamos um dinheirinho para o guarda’ nas blitzes quando pegos em flagrante.
É exatamente o acúmulo destas pequenas infrações rotineiras que geram as grandes distorções na política, no empresariado, nas organizações representantes da lei, quando somos nós mesmos que ocupamos posições nesses lugares. Até onde posso perceber não há nenhum alienígena nestes cargos, pelo menos não ainda, se acreditar na invasão iminente de aliens propagada pelo administrador da NASA e dada como certa para os próximos meses ou no máximo em dois anos.
Mas, é tão bom comer com as mãos a última costela esturricada abandonada na churrasqueira cuja lenha já se tornou cinza. Foi o que todos nós fizemos, já planejando o próximo encontro, esquecidos de Mayer e Suesllen para sempre!
Grato pela leitura. Abraços
Luiz Alberto Gaspar de Vasconcellos
lalbertojnl@gmail.com
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