De Colégio à Escola  Estadual
 
Herdeiro de uma monarquia colonialista o Brasil não tinha nenhuma diretriz ou base educacional, exceto aquilo que herdara da religião estatal monárquica: o catolicismo.

No início da República havia aqui ainda os seminários que preparavam para o sacerdócio e as escolas que formavam as normalistas para imporem as normas nos grupos escolares e catecismos, o clássico para formar futuros bacharéis nos Estudos de Direitos e o científico para formar futuros agentes de saúde das famílias e mestres de obras. E quem quisesse se especializar (médicos, juristas e engenheiros) tinha que pertencer à classe dominante porque os estudos eram um custo muito alto para quem não tinha um padrinho rico.
Nesta realidade educacional brasileira  havia os grupos escolares, escolas religiosas, ginásios e colégios.
 
O Colégio (e Ginásio) Mineiro era uma destas escolas: havia um ginásio com pistas e quadras para que o atletismo preparasse rapazes fortes para as Forças Armadas e um colégio para as cientificidades e humanidades: leis, saúde e cálculos. Tal instituição formativa era pública e muito concorrida havendo assim o seu Concurso para Admissão. Era como um Vestibular.
 
Esta realidade foi sendo modificada aos poucos. Na década de 60 houve, como reivindicação de pedagogos e professores, a primeira diretriz¹ que pouco mudou ou melhorou ou atendeu estas reinvindicações. Nos Ginásios ou mesmo no Colégio era comum haver professores sem Licenciaturas para o Magistério. Se o cidadão detivesse   um conhecimento maior na sociedade ele podia ser contratado como mestre. Desta forma era comum o religioso ministrar aulas de línguas, sociologia, geografia e filosofia; engenheiros, matemáticas; médicos, biologia e ciências naturais; advogados, línguas e história. Os militares também gostavam de lecionar e eram queridos para imporem disciplina e moral.
 
As escolas particulares começaram a surgir. Os custos eram altos e por isto tornaram-se clientes de políticos e partidos: elas recebiam bolsas para distribuírem entre alunos. Os pais destes  deveriam se comprometerem com os políticos criando um princípio de fidelidade nas eleições. Os donos de escolas sorriam e os políticos aplaudiam. E a Educação até então era um filão de verbas públicas para políticos criarem seus dependentes... Ou então o aluno carente que arrumasse um padrinho rico para custear seus estudos.
 
Ser professor era quase uma complementação de renda. Ou como se dizia na época  “é um bico”. A classe reivindicava Plano de Cargo, Salário e Carreira.
 
Os anos 70 inauguraram novos tempos onde Grupos Escolares, ginásios e Colégios públicos foram transformados em Escolas Estaduais ou Municipais. Criou-se o Ensino de 1º grau e 2º grau². O magistério com as normalistas permaneceu, as “humanidades”, que ensinavam a pensar sumiram, a “cientificidade” fortaleceu para dar base aos engenheiros das obras faraônicas da Ditadura Militar – o importante para o Brasil, segundo a concepção da época, eram as matemáticas, o resto era só “decoreba”.
 
Deste modo o Colégio Mineiro se viu transformado em Colégio Estadual e posteriormente em Escola Pública e gratuita para todos. Os chamados “Concursos de Admissão” foram proibidos, porque se todos pagam impostos todos têm direito à escola pública.
 
A elite irritada com o acesso a todos aos bancos escolares se viu sem suas exclusividades e com uma mão de obra mais politizada e informada. Por isto a mesma elite pede “Escola Sem Partido”, na qual, outra vez, desincentiva à reflexão crítica e propõem a doutrinação de seus interesses a que se chama de “moral e civismo”.
 
Anualmente ex-alunos do antigo Colégio Estadual Prof. Soares Ferreira se reúne para confraternizarem enquanto alunos de saudosa década entre si e com a participação de alunos da atual Escola Pública. Gerações se encontram com seus atavismos próprios de suas épocas.
É gratificante reencontrar com colegas das escolas, nos faz lembrar o menino e o adolescente que fomos.
É festivo encontrar com colegas e amigos de profissão. Ao nos olharmos temos a certeza que cumprimos a missão e o propósito do que fomos e somos. Reconhecemos no outro o nós.
É compensador encontrar nossos (a)lunos.  Pessoas que eram,  grosso modo, “sem a luz” e que tornaram-se “lunos”, Luz, expoentes. 
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 21/04/2017
 
Lei de Diretrizes e Bases no Brasil:
1.  Nº 4024 de 20/12/1961
2. Nº 5692 de 11/08/1971
3. Nº 9394 de 20/12/1996

   
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 21/04/2017
Reeditado em 06/07/2019
Código do texto: T5977455
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