Asas de Água e eu...

Quando comecei a escrever meu segundo livro, Águas de Água,fiz a maioria das poesias em Águas do Treme,onde meu marido Eduardo pescava muito.Enquanto o pescador pegava e devolvia aquelas lindezas à água,eu poetava.Penso que Mário Quintana estava por ali,pois eu escrevia em uma agenda que ganhei,num Natal,de um paciente.

O local é lindíssimo e os versos iam se acumulando entre uma foto que eu batia do incansável pescador incansável mesmo,era capaz de ficar até ao anoitecer,uma filmagem de algo que descobría ou dele,umas andadas de trenzinho em torno da lagoa,dar de comer ao meu namorido,arrumar a toalha sob o boné para ele não pegar muito sol,pois era alérgico,ouvir músicas lindas,cantar com ele...tempinho bom...

Nessa época,eu só pensava no tema água.O livro,grosso,ia se chamar "Todas as Águas",mas ficaria muito cara a edição,então,o triparti."Asas de Água" ,o primeiro volume.

Pedi a meu filho mais velho,Alessandro,que só quer músico,mas desenha bem,para fazer a capa,uma Nossa Senhora bem estilizada,conforme um dos poemas centrais.Ele é perfeccionista ,fazia lindos desenhos,rasgava,até que o sono bateu.Peguei uma das folhas rasgadas,alisei-a e no dia seguinte cedo,levei ao editor,o poeta Wagner Torres(da Plurarts Editora).Até hoje, o Aless,meu bass-man de estimação,reclama disso.Uma das asas da Madona estava inacabada.Ele trabalhava com lápis aquarelável-peguei um e acabei de preencher as gotas,pois as asas são formadas de gotículas.Faltou Arte final,o artista se ressente,mas eu tenho um livro com capa de meu filho,isso importa mais.

Esse livro,fala de muitas águas,de mitologia específica,do beijo ao mar,fala de meu caçula,nosso filho Gabriel,que, nadador, ganhou muitas medalhas na NadoArte,em BH.Uma vez,o pai eu fomos assitir a uma competição.Nunca tínhamos achado tempo para assitir a uma .Edu ,engenheiro,passava muito tempo em obras,eu ,muito ocupada com o consultório,apenas sabia que ele era muito bom e adorava que ganhasse as medalhas.Era uma prova de equipe,com revesamento.A dele estava perdendo.Ele entrou e em pouco tempo,virou a competição,o corpo longilíneo de adolescente,qual um peixinho,rápido no seu vai-e-vem.O pai estourava de orgulho.Naõ agüentou ficar sentado:levantou-se e foi torcer,na beirada da piscina,para o filhote na raia,gritando palavras de incentivo.Medalha de ouro...

Quando Asas de Água foi lançado,no salão da COPASA,que o financiou,houve uma bela noite de autógrafos:flores,velas(estava passando a novela "O Clone",o chão tinha caminhos de pétalas de rosa...),cerimonial.Depois,a banda da época de Alessandro,tocou.O baterista Xiló,nosso amigo,que fazia sessões de relaxamento em meu consultório,foi dar uma canja.Também tocou seu violão e cantou,Janaína Assis,que fazia análise,como presente...

Subi no parlatório e,olhando para o Eduardo,li a única poesia erótica do livro.Trata-se de um soneto moderno,sem rimas.E o erotismo bem sutil.

APASSIONATA

Beber da tua boca,o sumo da paixão

e dos teus olhos,a essência do desgosto

-o sabor de pêssego do teu beijo úmido

-o gosto do mar revolto,quando choras...

Trocar suores-corpos quentes,exsudando

a conjunção perfeita que nos faz um

na perfeita sincronização dos gestos

a melhorar os frescos lençóis de linho...

Trocamos humores quando te completo

e completas a mim(com tantas águas

produzidas,por alquimia,no interior)...

-Para receber-te,chovo em meu caminho

de morna e ondulada carne-e quando o trilhas

sei que lírios vão brotar na minha gruta...

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