GRACILIANO RAMOS, UM ESCRITOR DE BOA TÊMPERA

Meu primeiro contato com a obra de Graciliano Ramos foi por volta de mil novecentos e setenta e dois, quando eu ainda morava em Malhadinha, na casa do meu avô. Nós tínhamos uma prima que morava em Fortaleza e quando vinha ao interior, sempre trazia muitos livros para mim. Uma certa vez ela trouxe dois volumes que tinham como autor Graciliano Ramos, romancista alagoano. O nome dos livros Vidas Secas e São Bernardo, nomes para mim muito estranhos porque eu não tinha lido nada daquele autor desconhecido e sobretudo pouco falado nas escolas. Um dia me determinei a ler o primeiro volume que tinha o nome de Vidas Secas e falava da miséria do campesino, figura ainda hoje sofrida neste Brasil irresponsável. No primeiro tento, me deparei com a mudança daquela família campesina e dois animais, a cachorra Baleia e o papagaio. Fabiano, amaldiçoava o menino mais novo e o instigava a acompanhar o menino mais velho e a Sinhá Vitória a sua companheira de sofrimento. Quando eu li este capítulo fiquei imaginando que o autor era louco ou revoltado da vida. No entanto, passei a entender a ótica do autor de linhas tortas e pude perceber que ele tinha mais do que razão em mostrar a desgraça deste país cretino que nunca respeitou o seu povo como realmente merece. Vidas Secas é um livro que foi feito para ficar na nossa mente e sobretudo na mente daquele que ama a verdade sem fantasia, daquele que gosta de ler o que é bom e verdadeiro. Durante uns vinte dias eu passei a ler aquele livrinho magro, porém de grande sabedoria e muita verdade. A Tia Marica não gostava do Mestre Graça porque, dizia ela, que o autor de Angústia era bastante azedo e não fascinava o seu ego de boa leitora, como sempre fora. Quando eu terminei de ler Vidas Secas, fui direto ao São Bernardo, livro sublime e realista em tudo. Ali descobri o homem ganancioso, o homem egoísta, que vive somente para si, sem querer ver felicidade no seu semelhante. Paulo Honório é um louco por poder, por dinheiro e por tudo o quanto pertencia aos outros, esta figura usuraria não tinha tempo nem para o amor, nem para ele mesmo e era portanto, um ambicioso como muitos outros brasileiros de carne e osso. Nenhum outro escritor nordestino falou tanta verdade como o Mestre Graciliano Ramos, um beletrista de boa têmpera. Depois que li Vidas Secas e São Bernardo, li também do mesmo autor Angústia, livro triste, entretanto, bem escrito e muito verdadeiro. O nosso escritor nunca perdeu o tino da verdade porque isto estava com ele e ele não fugia dela por nenhum motivo. Luis Garcia, de Angústia, é um homem que se irrita até com o vento e não vê nada bom neste mundo de Deus e do Diabo. Em Viventes de Alagoas, crônicas do Mestre Graça, a gente se depara com o banditismo de Virgulino Ferreira da Silva, de Antônio Silvino, como também com os duelos de Romano do Teixeira, repentista popular, e outros assuntos que o nosso autêntico autor Graciliano nos mostra em Viventes de Alagoas como ninguém. Quando um dia o Brasil da pistola pensar mais em cultura, o nosso mestre e maior romancista será lido e mais amado e discutido por quem tiver bom cérebro. Contudo, a juventude não está preparada para ler e muito menos entender o autor de Memórias do Cárcere.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 20/04/2017
Reeditado em 20/04/2017
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