Shana: voz e vez
A exuberante, aliciante e perfumada cantora e apresentadora de televisão gaúcha Shana Müller dá o seu brado: é hora de se acabar com o machismo musical em seu Estado. Chega de a mulher ser coisificada, objetificada nas letras de música.
E se citam os exemplos da vilipendiação da mulher. Um caso clássico é de uma canção recente e exitosa no gosto popular que fala em dar com as esporas e em laçar a parceira. De autoria de um homem, claro.
Pouco familiarizado com as músicas gaúchas típicas, regionalistas ou evocadoras das tradições sulistas, eximo-me de palpitar sobre o mérito de suas letras. O que sei, e que muito apreciava na infância e juventude eram as músicas sentimentais de Teixerinha, que transcendiam as fronteiras do sul e subiam e buliam com o Brasil afora.
Eram sucessos indiscutíveis de vendagem. E a acompanhá-lo estava sempre ao seu lado a musa Terezinha. Mas isso agora é coisa de 4 ou 5 décadas.
E houve também quem até hoje se ouve e que a tanta gente ainda apraz como aprouve: Lupicínio, o compositor da dor de cotovelo. Incomparável no seu gênero musical. Esses moços, Vingança...nossa quem não curte? Só mesmo o Cobain que de intensidade partiu na flor da mocidade...Vê se curte, Cobain. Aí no Nirvana, onde tudo é bacana.
Mas o protesto de Shana é bem fundamentado e aparentente bem enquadrado, muito embora a gente esteja vendo abusos verbais por todo lado. E as mulheres têm sido as maiores vítimas dessas agressões, ao mesmo tempo em que continuam sendo também glorificadas, incensadas e valorizadas. Que mulher, por exemplo não gostaria que um Chico lhe dedicasse uma canção sua...?
E no próprio Estado, onde milita, encanta e grita, Shana tem logrado tanto simpatia certa, quanto hostilidade aberta. Mas quem consegue agradar a todos? Cristo tentou e foi pela soltura de Barrabás que a turba optou.
Embora mais fã de Renata, que vejo por anos a fio na Band, passo a admirar Shana também, pela sua coragem em tocar em tema que gera tantas paixões. Sobretudo num Estado aparentemente binário, entre Tricolores e Colorados.
O que me surpreende contudo é a rotulização de machismo nas mais frequentes referências ao homo gauchus...São notórias as manifestações nesse sentido e de muitas delas sabemos e as comentamos Brasil afora. Entretanto, deve-se evitar ou se desconfiar da generalização: pode afinal ser machista um Estado com cidades
de nome Encantado, Não-me-Toque, Dom Pedrito, Pelotas...?