Cocoroca
As pessoas me contam, quase sem nenhum esforço. Acho até engraçado e me faço de difícil às vezes, finjo que não estou interessada, mas não adianta, elas insistem.
Nas férias então é pior, ou melhor.
Um dia desses bati o recorde, percorri seiscentos metros até a fruteira, na ida uma pessoa que caminhava atrás de mim chamou:
- Oi moça!
Com eu poderia deixar de atender a um elogio desses?
- Sim.
- Moras aqui no residencial?
E começamos uma conversa animada, nem a chuva nos calou ou aumentou nosso passo. Ela contou que trabalhava em um hotel, mas a mudança de turno a fez desistir. Agora é diarista, o que é mesmo muito divertido e interessante. Trabalha em casas alugadas por turistas, que são muito bacanas e descontraídos, segundo minha amiga, afinal nos tornamos confidentes. Contou que o serviço é moleza e que naquela tarde dormira boa parte do tempo na cama dos turistas. Nem ligou ou nem quis perceber que eu também sou uma turista. Melhor mesmo é conversar. Despedimo-nos e ela mostrou onde mora e disse seu nome – Solange.
Na volta conheci Karina, que trabalha no clube, tem intervalo de uma hora, mas hoje dormiu e acabou ficando duas horas em casa. Tem dezoito anos e nasceu aqui mesmo, perto da praia. Mas não era assim, com ruas e casas, só tinha mato. Agora é melhor, tem muitas pessoas para conversar e fazer amizade. Eu que o diga.
Tenho outra amiga que diz que está escrito, na minha cara – gosta de ouvir. Afirma que eu incentivo com um “mesmo?” ou “não acredito!”. Quem é que resiste a um desafio destes?
Temos uma teoria, pessoas assim, como nós, adoram comer, saborear, trocar receitas. Digerem, mastigam. E experimentam as comidas mais exóticas, e das comuns, mas com poucos adeptos.
Fiz um teste com ela, fui perguntando uma centena de pratos, até rã, polvo, dobradinha, fígado, rim...
Pasmem, as repostas foram cem por cento sim. Com direito a comentários sobre textura e sabor, o que não deixou dúvidas, ela provou.
No final acrescentou, só não como cocoroca.
Cocoroca? O que é isso? – perguntei.
- Um peixe que dá nas pedras. Mas já experimentei.
Verdade ou não, algumas pessoas são sim, devoradoras de histórias. Até sobre cocoroca.