A vida secreta de um Paquiderme
Era só Artanildo passar que a galera lhe atirava uma pedra. Dentre muitos pejorativos era chamado de Defunto, Butão ardido, Catapora, Paquiderme, Seboso e Zé Ruela. Pouca explicação podia ser dada a respeito de tamanha tortura que sofria o rapaz, exemplo de honestidade na Vila dos Gambás.
— Dona Altina qualquer dia os meninos do beco vão passar o cerol no seu filho! – Avisou “Gato Sujo” um vizinho da casa ao lado á mãe de Artanildo. Que apenas chorava ajoelhada frente à imagem de Jesus Cristo na cruz.
A vila dos Gambás era território sem lei, a policia temia tanto atender ocorrência ali que sabia o numero de todos os moradores, quando recebia um chamado fingia estar com a linha ocupada. Artanildo era honesto, trabalhava de segunda a sábado acordando ás cinco da manhã e dormindo sempre após a meia noite.
— Mãe o que eles querem é que eu vire bandido! Não vê o Tó e o Feijão, são do mesmo sangue que me corre nas veias, saíram do seu ventre, mas hoje estão metidos com os criminosos! – Dizia Artanildo resistindo às disritmias da mãe quando por medo de perdê-lo insinuava que ele entrasse para o crime.
Namorava a Nayane filha de Valter Leitão, motorista de um vereador corrupto da cidade, certo dia surgira nas fofocas de pontos de ônibus que “Valtão” como era conhecido estava se beneficiando de trabalhos corruptos do patrão e havia trocado de carro e pintado a casa. Até o momento Artanildo escutava com um ouvido e abria o outro para a conversar e ir embora, mas quando a namorada apareceu de Iphone e bolsa de grife famosa, ele opinou. Disse que não achava correto ela estar se valendo de corrupção de terceiros para adquirir bens. Mas o sogro estava próximo, por pouco não saca a arma para calar a boca do genro honesto em demasia, após o fechamento daquele balanço animoso a sogra interveio ordenando que o namoro findasse para evitar coisa pior. Assim Artanildo que era apaixonado por Nayane tivera dor de cotovelo quando a viu com um morador da Vila dos Gambás, seria ali, motivo para uma nova alcunha. Além de Defunto, seboso, catapora, paquiderme, botão ardido e Zé ruela, agora também era corno. E o pai reclamou;
— Corno é desonra!
Artanildo baixava a cabeça, ouvia também da mãe;
— Prefiro um filho ladrão a corno! A raça de corno é tão excomungada que Jesus disse, “Mais fácil passar um camelo no fundo de uma agulha que um corno entrar no reino da gloria!” – Dizia convicta sem olhar para o filho.
Mas já se sabe que tudo aquilo que está ruim, pode ficar pior. Certa noite de chuva e enxurrada na entrada da vila, Artanildo foi abordado por meia dúzia de agentes do tráfico, estavam armados e com aparentes sinais de loucura, um deles era o atual namorado de Nayane, ele queria briga. Artanildo honesto e deficiente de coragem pediu que deixasse a coisa como estava o corno era ele, estava satisfeito com a galha dependurada na cabeça. Mas os dias de bom moço do rapaz estavam se esvaindo, o levaram para uma casa de onde expulsaram moradores, ordenaram que ele ficasse nu e lhe estruparam seguidas vezes. Filmaram e lançaram na internet. Dai então o Seboso, paquiderme, corno e etecetera era um comprovado botão ardido, baitola. Mudou-se, desapareceu por meses seguidos, nem a mãe sabia do seu paradeiro. Passou-se um ano, até que um dia um carro blindado da policia entrou atirando na Vila. Não dava baculejo, quem levantava a mão era morto, quem tentasse reagir era morto, não importava o que fizesse o fim era bala. Poucas pessoas sobreviveram, dentre elas, a mãe, o pai e os irmãos de Artanildo. Depois da chacina o carro blindado da policia, juntamente com outros que davam cobertura, explodiram matando a todos. Artanildo apareceu em seguida vestido de Estado Islâmico, sem dizer nada abraçou os pais e nunca mais deu noticias.