Juventude Mofada
De: Danilo Rodrigues
Estou exausto e sem fôlego diante da juventude. Já se sentiu assim?
Dizem os dizeres que essa é a fase do florescimento, onde sensações e emoções brotam, germinam em um majestoso jardim de descobertas. Contudo, a verdade é que o escriba aqui está é mesmo fatigado, são tantas surpresas que disfarçam problemas.
Lobo em pele de cordeiro.
Inúmeros são os sacos de areia grudados em minhas costas de vinte e poucos anos.
Todavia, é indubitável negar os encantos da mocidade. Ela é um rito de passagem embalado pelas longas estreias, longas por causa do novo que insiste em nos fascina. Sonhar é novidade, ganhar é novidade, perder é novidade, amar é novidade, odiar é novidade, pensar é novidade, escolher é novidade e frustra-se é novidade. A vida é cercada por uma onda de novidades onde os verbos se eternizam, ou pelo menos, é o que aparenta.
Há alguns anos, uma veterana atriz cedeu uma entrevista para uma iniciante, e jovem repórter.
– Rosa, você não tem medo de trabalhar com o Boni? Falam que ele é grosso, eu tenho medo dele.
Quando questionada se ‘nutria medo’ pelo o excesso de profissionalismo do seu superior, um diretor de televisão de uma renomada emissora, a artista respondeu iniciando uma nova pergunta:
– Quantos anos você tem minha querida? – perguntou á atriz de forma repentina.
– Eu? (risos), 23 anos amada – disse a repórter com um quê deboche.
– Pois então, há 23 anos eu não tenho esse tipo de medo, ‘amada’– Conclui Rosa, seguido da imagem de um cavalo dando coice violento em um homem.
A surpreendente resposta de Rosa Maria Murtinho confirma que juventude e posteridade vivem em um mesmo plano, porém, situados em posições paralelas. Digo isto com toda propriedade absoluta, propriedade essa maior do que mim mesmo, menor do que este mundo delirante, a verdadeira identidade só se concretiza a partir dos 30 anos. Portanto, cansei da minha juventude, da alheia, e das gerações passadas e também das futuras, que em breve, logo após os dias alcançarem uma longevidade ininterrupta, acordaram para um despertar.
Chega da gente, chega de nós, por favor! Vamos ser alguém que não somos, e que achamos que nunca conseguiremos ser. Vamos largar as amarras juvenis, e toda frivolidade dos gostos.
Vai me dizer que aqueles amores melosos e grudentos ainda lhe encantam? Gente, o amor e suas construções se tornaram burocráticos e oportunistas demais, e malmente sinceros. É insuportável, insustentável, inaceitável as nossas ansiedades, que transportam nossas cabeças para aquelas famosas guilhotinas Inglesas do século 18.
Vamos pôr fogo e tacar gasolina em nossas necessidades de atenção demasiadas, conversas que girão em torna de tolice, a preocupação monopolizadora no futuro, da tentativa de querer abrir todas as portas que estão fechadas de uma só vez. Dos eufemismos, ufanismos, da agonia das fotos, dos alpinismos das socializações, das variações de vozes em formação, que se explodam sem demora!
Vamos nos libertar, podemos e precisamos voar para inéditas alturas, ajustar o relógio da vida e dos acontecimentos para convergir com a maturidade das idades. Transforme-se, use toda sua vitalidade e pense , aja como alguém experiente, vivido, idoso, adulto, e talvez até decrepito, Why not?
Assuma uma postura superior porque a inferior já cansamos de exercer.