Alado, porém estigmatizado.

Já passava e muito das 23:00hs, Felipe estava no seu quarto sentado diante do computador quando um ser alado entrou voando pela janela aberta à suas costas, circulou ao redor agitando as asas e chocando-se contra as paredes enquanto tentava se agarrar em algum lugar, ao passar sob a lâmpada acesa interceptou a luz e lançou uma sombra negra como rastro. Quando a sombra atravessou o monitor feito um espectro sinistro e ameaçador, Felipe se assustou e virou o corpo para ver o animal adejando acima dos móveis; isso aconteceu justo no momento em que o bicho descia batendo as asas até bem próximo da sua cabeça. Sem nenhum exagero, de tão grande o animal parecia um morcego. Receoso de sofrer um ataque repentino o rapaz tombou para o lado e ergueu o braço dobrado para se defender e, ao mesmo tempo, proteger o rosto. Acompanhando o ser alado perfazendo o círculo, não foi difícil identificar a enorme mariposa no seu lindo tom de preto azulado. Como esses invertebrados são inofensivos independentemente do seu tamanho, ele ignorou a borboletona imaginando que ela fosse sair exatamente por onde entrou e sem a necessidade da sua ajuda, e voltou sua atenção pro computador. Mesmo ligado na tela ele percebeu que o rastro obscuro ainda girou pelo ambiente mais duas ou três vezes antes de desaparecer. O sono não demorou e, logo, a janela estava fechada, o computador desligado, a luz no quarto apagada e o nobre, ressonando.

Ainda não era meia-noite no bairro adjacente quando o seu José, pai do Felipe, passou mal e foi socorrido pelo filho mais novo; deu entrada às pressas num hospital e fora entubado imediatamente. Diziam os médicos: "O estado dele é grave". Seu José ainda lutou bravamente pela vida e contra a morte por mais de 24 horas até que veio a falecer.

Passados três dias, por volta das 18hs - a inumação do pai aconteceu às 13hs da tarde -, Felipe estava diante do computador e, embora estivesse atento à tela, reparou quando a enorme borboleta negra bateu asas e levantou voo. Surpreso com a sua reaparição ele girou imediatamente a cadeira e acompanhou seus movimentos. Ela contornou o cômodo uma, duas, três vezes voando a meia altura, quando, por fim, transpôs a janela na maior tranquilidade. Nos três últimos dias ficara de vigília quietinha dentro do quarto fora do alcance das vistas sobre a hélice do ventilador de teto.

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As pessoas fazem uma ligação tão forte das borboletas com a morte que, por causa do famigerado inseto, Felipe acabou encucado com esse acontecimento. E se perguntava: será verdade que existe essa ligação, ou fiquei apenas impressionado com o tamanho e a cor do bicho? Terá sido um aviso, o qual eu não soube interpretar e continuo sem saber? Dentre tantos na família, por que foi acontecer justamente comigo? E se outra mariposa me entrar pela janela, o que fazer?

Dilucas
Enviado por Dilucas em 16/04/2017
Reeditado em 12/02/2022
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