Nem Tudo Termina em Chocolate
 
Páscoa foi aquela que...                                             
 
Para nos humanizarmos criamos a cultura repleta de Ritos e Símbolos. Vive-se  a época da Páscoa:  Festa dos hebreus que chegou ao pós-moderno através do Cristianismo. Celebra-se a vida! Falar de seus símbolos e importância para o Ocidente é cair na redundância. Mas, antes de ser religioso, o capitalismo transformou um destes símbolos em mercadoria: o Ovo De Páscoa, “capturado” de seu significado original  pela indústria do chocolate para lucrar.
Em alguns países decora-se a casca de ovo de aves. No Brasil fabricam-se cascas de chocolate dando a forma oval que se recheia com guloseimas e enfeita-se com celofanes e fitas. Mas nem sempre foi assim...
 
No seio íntimo de minha família a guloseima achocolatada chegou à páscoa naquele ano... Era a novidade presenteada pela irmã mais velha, que não vivendo deste modo a festividade em sua fase infantil, queria agradar os irmãos mais novos e sobrinhos.    Aqueles Ovos não eram de nenhuma marca famosa. Eram artesanais. Chocolate em barra que seria derretido em casa e posto em fôrmas.  Naquele ano celebrávamos não só a Vida. Celebrávamos um novo modo de ver e sentir a vida. Os trejeitos caipiras da vida na fazenda cediam às regras da urbanidade. A indústria marcava sua vitória desbancando os produtos artesanais alimentícios rurais. A doçura abrandava os jeitos ríspidos também. Por isto verdadeira Páscoa para minha família foi aquela trazida pela minha irmã naquela novidade de celebração.
 
O Ovo na páscoa da infância de meu filho já foi toda inserida na maneira de ser da indústria alimentícia: sedução das propagandas, supermercado enfeitado com ala só de guloseima achocolatada e referências escolares remetidas ao consumismo desta época festiva. O chocolate era delirante! Culminava-se no domingo pascal. Onde antes de qualquer coisa era o deslumbre por qual teria sido o Ovo presenteado, dado e recebido. A festa se fazia.
Houve aquela páscoa em que o coelho estava mais gordo. Preocuparam-se em ofertar Ovos para as duas filhas da faxineira que não tinha condições de viver os absurdos do consumismo achocolatado.  O domingo amanheceu.  O filho abriu o seu esperado Ovo de Páscoa e logo após fomos fazer a páscoa com aquela família de parcos recursos. As duas meninas ao nos ver chegar com o par de Ovos logo reagiram: seus olhos faiscaram e brilharam mais que os papéis que decoravam os chocolates. Os pais eram puro agradecimento pela doce surpresa.
 
Naquela outra páscoa a roda da vida havia girado. Os pais viviam suas solidões e o filho a dele. Chegou a festa da libertação. Lembrou-se daquele mousse de chocolate tão mais saudável. Fez-se a receita, comprou uma vasilha vítrea para servir o gelado e convidou o filho que agora era um jovem buscando o seu caminho de libertação. Aquela páscoa foi uma verdadeira ressurreição. A vida se refez novamente. As coisas chegaram a seu lugar de modo diferente, refeito e transformado.
 
Para comemorar esta renovação acontecida há dez anos o filho pediu para que se fizesse o mesmo mousse daquela  páscoa neste ano. Pai e filho buscando uma alimentação mais saudável idealizaram um mousse de chocolate atípico. Afinal tudo é renovação e transformação!


A páscoa, para ter sentido, há de ser tempo de reflexão e avaliação da vida. Assim é que se dá a ressurreição de pensamento. Por que nem tudo pode só terminar em chocolate.


Feliz Páscoa, renovação de vida!



Leonardo Lisbôa
Barbacena, 13/04/2017



 
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 15/04/2017
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