Saudade
Saudade é a palavra certa, pois como é gostoso a gente lembrar de nossa mocidade, limpa, honesta, sem vícios e muitas vezes romântica.
Quando entrei na Cia Mogiana de Estradas de Ferro, para a carreira de locomotivas, com 21 anos de idade, eu fui estagiar no depósito de Campinas, a fim de aprender a lidar com as locomotivas. Eu encontrei lá, também, um amigo, que estava começando, como eu, e fomos trabalhar no período da noite, das 17h00 às 6h00 da manhã.
Éramos sempre orientados pelo nosso feitor, o Senhor Pedro de Campos, muito bom. E ficamos seis meses nessa empreitada. Depois começamos a trabalhar na linha como ajudantes de foguistas, já que as locomotivas eram todas a vapor.
O meu companheiro de serviços era o Ari Rossi. E nas horas vagas gostávamos de cantar. Cantávamos desde musicas sertanejas até sambas e valsas, de Orlando Silva e Carlos Galhardo.
Um dia, um maquinista que estava esperando horário para partir com seu trem de carga, nos ouviu cantar. Ele se chamava Paulo dos Santos. Ele nos disse:
“O que vocês estão fazendo aqui com essas vozes tão bonitas. Por que não vão ganhar a vida cantando?”.
Nós estávamos cantando, em dueto, a valsa “Número 1”, de Orlando Silva.
Mas continuamos na Mogiana. Numa outra oportunidade, agora em Ribeirão Preto, na hora do descanso eu estava num bar que tinha um campo de bochas, coisa que eu jogava muito bem, quando apareceu um rapaz com um violão e perguntou aos presentes:
“Será que alguém aqui canta alguma coisa?”.
Então eu pedi a ele:
“Ponha um tom baixo, para uma valsa”.
E ai eu comecei a cantar “Bodas de Prata”, de Carlos Galhardo, e “Ultimo Desejo”, de Orlando Silva,
Quando acabei de cantar, um senhor de gravata e terno me disse:
“Se você quiser eu lhe arranjo um teste na rádio aqui de Ribeirão Preto..”
Era 1958. Eu estava com 24 anos.
Eu agradeci muito à oferta daquele senhor, mas preferi continuar minha carreira de maquinista até minha aposentadoria em 1984. Assim, cantar foi apenas um sonho.