Falando
              aos grisalhos


    "Ah, mas no meu tempo era melhor!" 
Se diz por aí que esta frase está entre as prediletas do pessoal da terceira idade.
     Muito bem. É uma frase perfeitamente aceitável, desde que não signifique uma irremovível censura ao hoje.

     Evocar o passado, com a preocupação de condenar sistematicamente o presente, não é uma boa.
     No caso dos velhinhos, quem sai perdendo é o coroa. Passas a ser visto como um cara ranheta, intolerante, superado.
     É aconselhável, pois, que os grisalhos manerem quando tiverem de recordar seus dias idos e vividos, comparando-os com os tempos d´agora. Redobrar a moderação se o papo for com os moços, dispensando especial atenção ao vocabulário usado agora pela meninada.
     Outro dia, escutando, por acaso, o diálogo entre dois jovens, quase não consegui entender o que eles diziam, tantas eram as gírias e palavras estranhas de que ambos lançavam  mão!
     Saltei do ônuibus convencido de que parolar, agora, com a meninada é um tanto complicado, mas divertido. Na parolagem com eles, descobre-se uma inexcedível simplicidade e extrema sinceridade no que eles pensam e dizem.
      Aquele estilo rebuscado de antigamente, nas declarações de amor, por exemplo, praticamente desapareceu. 
     Hoje, o garotão e a garatona vão direto ao assunto. Desprezam as preliminares que tanto preocupavam os mancebos e mancebas apaixonados d´outrora.
     Nos velhos tempos, conquistar um brotinho, não era mole. Além das limitações impostas na época ao carinho tátil, exigia-se do galanteador uma boa e proveitosa conversa.
     Em alguns casos, ele era forçado a decorar frases requintadas, colhidas em bons romances, para, afinal, obter sucesso na conquista. 

     Passava, então, a ser reconhecido como um sujeito envolvente, culto, irresistível. Ate os pais das meninas elogiavam a elegância verbal e o saber do futuro genro: - "Um sujeito inteligente. Viram como ele fala?"
     Já cheguei a condenar a espontaneidade verbal dos nossos moços. Arrependi-me de tê-lo feito. Afaste-se a pornofonia, e todo o resto é válido. Dizia o poeta Alberto Oliveira que "À mocidade fica bem um grão de irreverência".
     Aos amigos grisalhos, mais do que lhes dar um conselho, faço-lhes esta advertência: procurem nunca dizer a um jovem que "ah, mas no meu tempo era melhor..." com a nítida intenção, redigo, de condenar o seu (dele) agora.
     Não que o velhinho esteja proibido  de voltar ao seu começo, às vezes tão distante, e até compará-lo com o que acontece nos tempos de hoje. Não. Recordar, faz parte do papo dos coroas.
     O segredo está em fazê-lo com discrição, com inteligência, e com a habilidade que só os cabelos brancos ensinam...

   
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/08/2007
Reeditado em 21/10/2019
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