DESTAS SEXTAS FEIRAS SANTAS
Impossível , à mim, não voltar no tempo à cada sexta feira santa.
São tantas lembranças atreladas àquela gente de fala mansa que já não mais habita este plano.
Volto à cozinha da casa de "Seo Jango" (meu pai) e consigo aspirar com nitidez o aroma das ervas colhidas antes que o sol nascesse.
Orvalhadas e cheirosas, ocupavam um canto da sala e parte delas teriam destinação certa: Seriam oferecidas como pequenos mimos aos muitos afilhados que lhe vinham pedir a benção naquele dia.
Eram tantos!
A cozinha enchia-se de vozes e quando a conversa enveredava para algo mais extrovertido, vinha sempre a recomendação "respeito ao dia de hoje".
Mamãe coava café e servia aos afilhados com bolachas caseiras que na véspera eram assadas em fornalha para espera-los.
Lembro-me de um frasco sextavado, de boca larga , onde armazenava-se o fermento para tal.Caprichosamente dona Dida,(minha mãe) havia criado uma etiqueta para o mesmo.
O capricho ficava por conta do desenho de um biscoito, o que perdoava o atentado à língua portugesa.
Sobre o saliente biscoito fora manuscrito a palavra "Salamonhaco", que traduzido era tão somente o mal cheiroso sal amoníaco.
Na chapa do fogão à lenha estalavam os pinhões de São José e os visitantes serviam-se daquelas bolachas duríssimas, porém , quando mergulhados à xícara de café elas,as bolachas, experimentavam o "milagre do crescimento" ,transformando-se em delícias que dissolviam-se no céu da boca.
E assim passava-se o dia.
Quando à tardinha, as ervas remanescentes da sexta feira Santa do ano anterior, eram incineradas no fundo do quintal.
O vale embalsamava-se aos cheiros de alecrins , marcelas e outras ervas.Uma tênue cortina de fumaça erguia-se entre as pereiras e, ao redor do fogo,a criançada punha-se a espera do domingo de Páscoa.
Os anos passam, as coisas mudam, modernizam-se, é preciso acompanhar a evolução do mundo.
Mas, lá no fundo da memória há que se resguardar as cozinhas do tempo, os cheiros, ecos , vozes, manias e tradições que alicerçaram nossas existências.
Particularmente, gosto de preservar as minhas,embora uma certa preguiça hoje me acomodasse ao quentinho da cama, impedindo que colhesse marcelas orvalhadas antes do nascer do sol.
Perdão! Seu Jango.Para o proximo ano...
Eu me comprometo!
Joel Gomes Teixeira
Impossível , à mim, não voltar no tempo à cada sexta feira santa.
São tantas lembranças atreladas àquela gente de fala mansa que já não mais habita este plano.
Volto à cozinha da casa de "Seo Jango" (meu pai) e consigo aspirar com nitidez o aroma das ervas colhidas antes que o sol nascesse.
Orvalhadas e cheirosas, ocupavam um canto da sala e parte delas teriam destinação certa: Seriam oferecidas como pequenos mimos aos muitos afilhados que lhe vinham pedir a benção naquele dia.
Eram tantos!
A cozinha enchia-se de vozes e quando a conversa enveredava para algo mais extrovertido, vinha sempre a recomendação "respeito ao dia de hoje".
Mamãe coava café e servia aos afilhados com bolachas caseiras que na véspera eram assadas em fornalha para espera-los.
Lembro-me de um frasco sextavado, de boca larga , onde armazenava-se o fermento para tal.Caprichosamente dona Dida,(minha mãe) havia criado uma etiqueta para o mesmo.
O capricho ficava por conta do desenho de um biscoito, o que perdoava o atentado à língua portugesa.
Sobre o saliente biscoito fora manuscrito a palavra "Salamonhaco", que traduzido era tão somente o mal cheiroso sal amoníaco.
Na chapa do fogão à lenha estalavam os pinhões de São José e os visitantes serviam-se daquelas bolachas duríssimas, porém , quando mergulhados à xícara de café elas,as bolachas, experimentavam o "milagre do crescimento" ,transformando-se em delícias que dissolviam-se no céu da boca.
E assim passava-se o dia.
Quando à tardinha, as ervas remanescentes da sexta feira Santa do ano anterior, eram incineradas no fundo do quintal.
O vale embalsamava-se aos cheiros de alecrins , marcelas e outras ervas.Uma tênue cortina de fumaça erguia-se entre as pereiras e, ao redor do fogo,a criançada punha-se a espera do domingo de Páscoa.
Os anos passam, as coisas mudam, modernizam-se, é preciso acompanhar a evolução do mundo.
Mas, lá no fundo da memória há que se resguardar as cozinhas do tempo, os cheiros, ecos , vozes, manias e tradições que alicerçaram nossas existências.
Particularmente, gosto de preservar as minhas,embora uma certa preguiça hoje me acomodasse ao quentinho da cama, impedindo que colhesse marcelas orvalhadas antes do nascer do sol.
Perdão! Seu Jango.Para o proximo ano...
Eu me comprometo!
Joel Gomes Teixeira