MORTE INTERIOR. VAIDADE E GANÂNCIA.

Lembra a história hoje o martírio de Quem nasceu para ensinar o despojamento, a doação, a liberdade de escolha enquanto passamos céleres por essa destinação que nos coube, a existência corporal que se finda.

Mas sinalizou o voo para outros espaços, a vida imaterial para rincões onde não há doença, sofrimento e morte, a eternidade, a quem pertencemos desde que chegamos até nossa extinção, a permanente metamorfose.

Essa imaterialidade encarnada na imemorialidade, atemporal, figura no nosso pensamento que incorporamos à matéria, privilégio único entre os seres vivos que somos, o sopro do espírito como dizia Santo Agostinho, a alma que não se compreende e não se vê, o enigma traçado para ficar sob véus pelo Primeiro Movimento, o Deus ficto que não tem forma, mas É.

Não se morre interiormente ouvindo as palavras do mártir dos tempos, Jesus de Nazaré. Muitos outros foram martirizados, lembrados, até em seu nome, nenhum com essa significação no mundo e para as eras.

Por quê?

Por advertir para a morte interior, a morte dos que não tem a consciência da escolha do desligamento dos bens materiais e anímicos menores, naqueles pela retenção e ganância, nestes pela rasteira presunção da vaidade, sempre infundada, habitando trevas que a luz não alcança.

O ganancioso mata a si mesmo, sempre quer mais e retém mesmo o que lhe daria o mínimo de conforto necessário. É a punição temporal, do corpo, pune a si mesmo, e espera o que define a Divina Comédia de Dante, o desconforto espiritual eterno por escolha indevida, ardendo nas "Bolgias" dos nove círculos. Retendo em vida nada restará para os que esperavam serem saciados, ele próprio e os que estavam ao seu lado.

Levará para outra vida os “tesouros” contados pela ganância, retidos pela avareza. Outros disto se servirão, gastarão os "tesouros da retenção".

O vaidoso passa pelo mundo pensando em ser, esquecendo o que é. Um triste destino. Nessa equação absurda de visão limitada, da escolha surda e cega, vai do nada ao nunca, do não ser ao não sendo, da presunção ao pesadelo da realidade, e vai morrendo interiormente, asfixiado, em lenta agonia de uma luz que poderia brilhar sendo o que é, mas que se apaga totalmente pelo pecado da vaidade, a mais triste cenografia de ser vista motivando o desprezo de todos.

A morte de Jesus - sua humildade e serviço de amor - tornou-se em vão para essas personagens.

A vaidade é gananciosa, é mãe da retenção, por isso traz a morte do interior.

Que Jesus, no dia de seu Calvário, possa ainda resgatar na sua Santa Piedade os que Dele se afastaram.Ele é Pai.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 14/04/2017
Reeditado em 14/04/2017
Código do texto: T5970600
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