UM MOMENTO, UM CAFÉ E UM CIGARRO

Tem dias que as coisas simplesmente acontecem, não sei se por um motivo ou se por que tem que acontecer. O mais importante é que ficam registradas no tempo e na memória, daí viram lembranças.

Quando comunicaram que esse escritor estaria na universidade, eu pensei que seria ótimo vê-lo falar sobre suas obras, sinceramente não conhecia suas obras, acabo de conseguir ingressar num mundo novo, onde busco aprender para compartilhar com meus alunos. Quero sim aprender, mas quero mais aprender e compartilhar, porque não vejo sentindo aprender só para mim. Seria um conhecimento muito pobre e mesquinho esse.

Cheguei e a sala estava cheia, muita gente participando e fazendo perguntas de suas obras, eu apenas ouvia, pois não conhecia nada a respeito dele e nem do que ele escrevia. Apenas fui ouvindo, aprendendo e criando meus conceitos. Quando ele começou a falar, percebi que o escritor não gostava de muito contato pessoal, apenas ao que referia a suas obras. Fui tirando minhas conclusões e pensei comigo mesma que não teria coragem de falar nunca com ele, no mínimo falaria com suas obras, seria o mais perto que estaria desse escritor.

Mas a vida toma uns rumos estranhos que não convém a nós questionar, ela simplesmente acontece.

No dia seguinte eu estava na aula quando, para minha surpresa, a minha professora avisa que ele estará conosco, imaginei que seria um momento bom para conhecer mais suas obras e decidir quais começaria a ler. Não me interessava tanto pela sua pessoa, afinal tive a impressão que ele era uma pessoa reclusa e apática a relações pessoais.

Quando ele chegou era hora do nosso intervalo, fui com minha amiga tomar um café e fumar um cigarro. Por incrível que pareça, ele também foi com o outro professor, o qual havia sido convidado para nos dar aula.

Cheguei voando na fila com minha amiga atrás de mim, pedi o café e como estava com os livros nas mãos, virei e falei: “Você Segura meus livros?”

Falava com minha amiga que estava atrás dele, mas o escritor pensou que eu falava com ele e segurou meus livros para que eu comprasse meu café.

Foi tão inesperado que apenas sorri e peguei meu café enquanto ele segurava meus livros, depois no pátio da universidade tomamos o café e fumamos um cigarro, conversamos nós quatro com a maior naturalidade do mundo, como pessoas que encontram um assunto em comum.

Eu não fiquei deslumbrada com aquele momento, apenas entendi o escritor. Ele não queria ser o foco de tudo, para contagiar as pessoas ele não precisa disso, não é por ser quem é que o torna melhor que outros, a diferença está no comportamento de quem o encara, se como pessoa ou apenas alguém que escreve para ter sua obra analisada.

Depois de tudo o que aconteceu, as trocas que fiz com ele, cheguei à conclusão que ele realmente é uma pessoa espetacular. Ele provou isso por sua humildade, por não ter nenhuma arrogância, por ser apenas um simples homem que escreve pensamentos e sonhos grandiosos num mundo em movimento de valores.

Após essa aula fiquei pensando em muitas coisas, fiquei realmente inquieta, tanto que não direi o seu nome. Quando entrei na outra aula, por incrível que pareça, a primeira pergunta foi quais impressões os alunos tiveram a respeito da palestra do escritor, todos falaram, mas eu não, só fiquei a pensar. Tive mais que todos e não vou usar isso para me destacar, pois ele segurou os meus livros.