O Catador de estofo
John Locke:- “a mente de uma pessoa ao nascer era uma tábula rasa, ou seja, uma espécie de folha em branco. As experiências que esta pessoa passa pela vida é que vão formando seus conhecimentos e personalidade”
Aferrado a uma bitola fixa, e paralela, caminhava o trem, assentado em dormentes, contando estações.
O guri, preso à janela, contava a relva, a vaca, e uma ou outra despedida. Diferenciava despedidas de chegadas, pela emoção que cada uma revelava. Ouvia inícios de promessas, que a partida interrompia, sem que ouvisse o fim; via, totalmente, o riso aberto, de quem recebia alguém.
Percebeu escracho, que levava consigo, o passageiro e o trem; notou o despacho de alguém, que mandava para outro alguém, e percebeu que as horas de partida não tinham a mesma intensidade, e demora, das horas de chegada.
Viu lancheiras carregando merendas, viu amores carregando ternura, viu doentes carregando esperança, certos de que encontrariam o médico. Havia passageiros carregados de aventura, outros carregados de objetivos, e viun passageiros apenas perdidos.
E o trem não parava, era cíclico, era circular, sempre recolhendo gente, ou recolhendo coisas, coisas para o guri olhar.
O trem caminhava em trilhos, a vida caminhava em trilhos, sem nunca descarrilhar; e o guri ia no trem, e por onde o trem, e a vida passavam, ele, guri,a tudo aprendia, aprendia, só de olhar